Em 29 de Setembro de 1964, há 50 anos, nascia a criança mais politizada e desiludida da história dos quadrinhos, a querida Mafalda. O Golpe Militar brasileiro estava bem fresco na memória de toda a América do Sul, com muitos ainda embriagados pelos discursos utópicos daqueles que haviam acabado de tomar o poder.

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Mafalda talvez tenha surgido, mesmo que indiretamente, desse receio por parte do círculo de amizades do jovem Joaquín Salvador Lavado Tejón, mais tarde eternizado sob o pseudônimo Quino. Curioso pensar que a tirinha foi interrompida em 1973, um ano após o golpe militar da Argentina, por esgotamento de ideias, como alegou o autor. Mas é de se pensar que tenha sido para evitar grandes problemas com o governo.

Com críticas mordazes à todos os paradigmas da sociedade, do significado da democracia ou do exercício da livre expressão até questionamentos mais infantis quanto à gravidade (e estar de cabeça para baixo no espaço) ou às mídias de massa da época. Quase nenhuma crença, científica, religiosa, ideológica ou política, foi deixada de lado.

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Cada um dos personagens tinha seus próprios problemas, suas próprias ideias e questionamentos, o que fez muitos compararem Mafalda às histórias de Charlie Brown. Mas convenhamos que, sem tirar o crédito para a crítica do amor e do cotidiano que jamais mudarão, a crítica atemporal de um super volátil cenário político merece especial atenção.

No dia exato dos 50 anos da primeira tirinha, 29 de setembro, Quino foi perguntado o que ele achava da relevância das críticas de Mafalda hoje, que continuam surpreendentemente atuais. Sua resposta? “Me surpreende e me deprime (…), quer dizer que não mudou muita coisa”.

Minha barba. Minha vida.