A fotografia é um ponto de contato inestimável. Por meio dela, artistas colocam traços de sua personalidade e contam histórias complexas sem ao menos usar uma palavra.

Inúmeros deles se tornaram famosos por conseguir adequar toda essa subjetividade à indústria do entretenimento, outros morreram à beira do esquecimento ou simplesmente optaram por realizar “arte pela arte” tangenciando o anonimato.

Entretanto, tais características não são suficientes para descrever todos os profissionais do setor – enquanto alguns quebram a cabeça para se adequar as tendências, outros se destacam e espalham o seu estilo por diversas áreas da comunicação.

Aliás, quem nunca se deparou com um editorial de revista ou um videoclipe pop assinado por um fotógrafo denominado conceitual? Wim Wenders, por exemplo, já emprestou o seu clássico preto e branco para ilustrar cenas da faixa “Stay” do U2.

Essa intersecção de assuntos é muito comum quando o desejo é produzir conteúdo. E é exatamente nesse ponto que o nome Roger Ballen aparece. Inspirado pela pluralidade do meio fotográfico, por artigos de psicologia e pelas obras melancólicas de Van Gogh, o fotógrafo construiu uma carreira sólida que transita entre registros cotidianos e ensaios milimetricamente projetados.

Nascido em 1950, o americano carrega a versatilidade em seu DNA – Ballen se formou em Geologia e acabou caminhando para a fotografia devido a sua natureza autodidata. Aos poucos, começou a fotografar anônimos nas ruas de Nova Iorque e com o passar dos anos registrou desde a explosão dos jovens no Woodstock até a pobreza chocante de países sul africanos.

É interessante notar que a intenção das fotos de Roger é vasta e que o profissional nunca esteve centrado em fazer política por meio de seus cliques. As obras sempre foram encaradas de uma forma polêmica, o que fez com que Roger buscasse compor suas imagens com outros elementos.

Em uma fase de seus projetos, focou seus estudos em textos sobre a psique humana e nas teorias de importantes pensadores e fotógrafos, como Bresson e Elliott Erwitt. Nesse momento de sua carreira, Ballen explorou o conceito de universalidade e flertou com arquétipos da teoria de Jung como temática para as imagens.

O caráter animalesco de alguns personagens é bem marcante. Assim como nos textos de Jung, algumas criaturas lembram divindades, monstros que vieram diretamente dos pesadelos de alguma criança ou cenas sexuais que incitam o instituto humano.

E por falar em instinto, Ballen já dirigiu o clipe “I FINK U FREEKY” de DIE ANTWOORD. A dupla psicodélica apresenta canções que em sua maioria contam sobre a naturalidade humana e as mais diversas situações que acontecem em seus shows, além de possuir uma forte tendência eletrônica em seu som.

Repare como os elementos se repetem e como o preto e branco de Roger Ballen se estende por cada frame do videoclipe.

A obra do fotógrafo é inegavelmente especial. Em recente entrevista à Carta Capital, Ballen disse a seguinte frase:

“Digo frequentemente que minhas melhores fotos são aquelas que não compreendo. Não há fórmula ou maneira de descrever o estado mental que habilitará um fotógrafo a produzir imagens com níveis de significado profundos.” E é exatamente isso que guia o trabalho de um artista: despertar sensações, sem calcular exatidões ou certezas.

Mais de cem mil pessoas já conferiram a mostra que apresenta o trabalho de Ballen no Rio de Janeiro e em Curitiba. A exposição está atualmente em sua parada final em São Paulo, instalada no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo. Que tal ir analisar de perto essas fotografias que ora incomodam, ora agradam, mas sempre impressionam?

ROGER BALLEN: TRANSFIGURAÇÕES, Fotografias 1968-2012

MAC USP

Avenida Pedro Álvares Cabral, 1301

Parque Ibirapuera

São Paulo

De 28/03 a 27/09

Nome de rei, força de vontade de plebeu.