#Contos por Ian Perlungieri

Um beijo.
Sem paixão. Sem emoção. Sem desejo.
Ela sentia desejo, mas não por mim. Pelo meu corpo, pois era só isso que restava.
Não havia mais sentimentos em mim já fazia tempo. Depois de sofrer por alguém e ser descartado como lixo, depois de sentir algo e ser descartado como merda, depois de amar e ser descartado como a puta que o pariu. Nada mais restava.
Apenas um corpo. Barba mal feita, roupas rasgadas, indiferença com a vida. E, inexplicavelmente, foi nessa hora que algumas mulheres começaram a interessar-se por mim. Mas aquele com barba mal feita não era eu. Eu havia morrido antes.
Havia uma mulher muito especial. Grande amiga, grande pessoa. Éramos inseparáveis. Tão inseparáveis que começamos um relacionamento.
Mas não deu certo.
Ela me traía. A grande amiga, a grande pessoa morreu naquele momento. Naquele momento em que a vi com meu melhor amigo. Aqueles gemidos no banheiro da faculdade. Ouvi-la gritando de prazer um nome que não era o meu. E depois flagrá-los. Vê-los. Tendo prazer um com o outro.
Naquele momento tudo morreu. Todos os meus amigos. Não podia mais confiar em ninguém. Esperança morreu, fé morreu, sentimento morreu.
Agora eu era assim. Indiferente com tudo e todos.
E por isso comecei a chamar atenção. Mulheres apaixonavam-se loucamente por mim e eu sempre as recusei.
Exceto uma. A que estou agora. Era a menos bonita delas, porém era a mais apaixonada. Uma paixão mais verdadeira, mais intensa, mais algo.
Era disso que eu precisava. De alguém que me amasse.
Mas eu odiava tudo isso! Aquele beijo sem sentimento! Aquele beijo chato, estúpido, sem finalidade.
Eu nem sabia que estava beijando alguém. Estava pensando em saber se a pia da cozinha estava pingando. Em consertar a janela da sala. Na fome na África.
Não havia finalidade naquilo.
Parei de beijá-la e ela percebeu que ia acontecer. Eu iria terminar.
Ela me encarou com aqueles grandes olhos pidões.
– O que foi? – ela perguntou.
Pensei nela em um futuro próximo. De barba mal feita, roupas rasgadas e indiferença com a vida. Exatamente como a mim. E senti pena.
– Nada. – eu respondi.
E voltamos a nos beijar.

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Meu nome não é Alex DeLarge, nem Tyler Durden, nem Mort Rainey. Nunca me chamaram de John Keating. Não sou Ed Bloom, nem Joel Barish. Scott Pilgrim, Carl Allen, Bruce Wayne, Rainer Wenger. Nenhum destes é meu nome. Sou apenas uma peça de um tabuleiro.