Nessas férias, resolvi visitar algumas exposições em São Paulo; fui sozinha a uma delas: visitei o Instituto Moreira Salles para ver tanto a exposição do Walter Firmo, um fotógrafo brasileiro, quanto a do Daidō Moriyama, um fotógrafo japonês.

Walter Firmo teve suas obras divididas em duas galerias: uma apenas com fotos em preto e branco, e outra com fotos coloridas, de modo a diferenciar a atenção do público. Particularmente, prefiro fotos coloridas, uma vez que as cores e saturações fixam a minha atenção e me encantam mais que qualquer outra coisa, mas esse também é o maior problema das fotos coloridas: o que mais chama atenção é a cor, não a foto.

As fotos coloridas são espetaculares, mas o significado e a força por trás de uma foto preta e branca é imensurável. É possível prestar mais atenção nos detalhes e no que está de fato em questão ali. Isso me surpreendeu demais.

Já a galeria de Daido Moriyama foi produzida de forma  completamente diferente:contendo uma quantidade absurda de fotos, sua exposição prezava mais pela quantidade do que pela qualidade, o que me fez julgá-la um pouco.

Para ser bem sincera, meu primeiro pensamento foi: nossa, qualquer foto emoldurada vira arte. Mas, talvez, eu estivesse errada: Daido saiu por Nova Iorque tirando fotos de tudo e de todos, sem nem sempre olhar antes de ouvir o clique, mas essa é a história que ele quer contar. Quer mostrar uma cidade sem filtros e sem poses e mostrar a cultura japonesa do pós-guerra se espalhando pelos Estados Unidos. 

Mas isso ser sua ideia não tirou da minha cabeça o pensamento inicial. Qualquer coisa emoldurada parece arte? Talvez. E é isso que o artista Piero Manzoni quis criticar com sua obra “Merde d’artiste”, que traduzindo significa merda de artista. Isso mesmo: ele vendeu merda a preço de ouro. Como forma de criticar o consumo exacerbado, além daquilo que “ingerimos” quando se diz ser arte, Piero produziu latas com seu próprio excremento dentro (não sei se alguém abriu para checar) e vendeu ao preço de ouro.

As fotos de Daido contavam uma história, e essa era a arte por trás de sua exibição, mas será que se juntarmos quaisquer fotos, emoldurarmos, e colocarmos na parede de um museu, elas vão parecer obras?

Um jovem de 17 anos fez esse teste no Museu de Arte Moderna de São Francisco; ele viu as obras no chão e questionou se aquilo realmente impressionava alguém, então, tentou colocar seus óculos no chão perto das obras e assistir a reação das pessoas. Como se pode imaginar, virou arte. Poucos minutos depois, as pessoas começaram a se aproximar e até se ajoelharam para tirar foto.

Será que realmente vemos significado naquilo que apreciamos? Talvez algumas coisas não precisem ter uma razão, mas vale repensar se aquilo que consumimos, seja foto, vídeo, quadros, esculturas, dentre muitas outras obras, realmente nos impressionam e nos fazem refletir, ou estão apenas posicionadas sob uma luz bonita de museu.