Saiu na última terça-feira, dia 28/10, o caderno anual Folha Top of mind. Ele é sempre um material rico de pesquisa. Imagino que, ao longo desta semana, ele tenha sido discutido em muitos cursos de Publicidade, mas também em sociologia, psicologia, semiótica, etc..

Dentre tantas coisas a se considerar, chamo a atenção para duas. Em primeiro lugar, o grande espaço inicial reservado para aqueles que criam e cultivam as marcas: as agências publicitárias e alguns de seus nomes mais conhecidos. Há algum tempo já elas próprias são marcas relativamente públicas, para além do meio profissional específico. Na própria campanha presidencial, o responsável pela propaganda da presidente teve seu nome bastante evocado.

Outra observação diz respeito à manutenção da enorme maior parte das marcas Top of mind por categoria. Imagino que a construção de uma marca sólida a ponto de se sedimentar em nossa memória seja um trabalho lento. Ao evocarmos a primeira marca que nos vem à mente, a reposta será intuitiva, pré-reflexiva. Isto que significa: internalizada a ponto de funcionar como reflexo.

Tornou-se um Best seller em 2011 um livro chamado Thinking, fast and slow, do ganhador do Nobel de economia Daniel Kahneman (Em português, pela Editora Objetiva: Rápido e devagar).  Em linhas gerais, ele postula que tenhamos dois modos de pensamento: um rápido e outra lento. O rápido é aquele evocado na pesquisa Top of mind, baseado em nossas experiência, que criaram associações regulares, tornadas reflexas, como dissemos. Nossos pré-conceitos, como forma de dizer. O pensamento lento é reflexivo, consciente, mais elaborado e capaz de considerar variáveis atuais e se transformar. Há quem queira associar o primeiro a uma irracionalidade e só considerar racional o segundo. Mas não é assim, a intuição seria esta resposta imediata baseada em nossas experiências anteriores consolidadas; há racionalidade pré-reflexiva nele.

Não é fácil romper conexões fortemente estabelecidas e tomar seu lugar. Ao longo do tempo, vemos eventualmente marcas surgirem com força e desaparecerem e é mais raro o ingresso definitivo no naquele clube seleto.

Para quem duvidar da força conservadora da intuição, lembre-se que teremos para o governo federal e estadual dois reeleitos, sob partidos cujos números já estão incorporados na memória popular: são Top of mind, mesmo que não sejam necessariamente mentes top.

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Pedro de Santi

Psicanalista, doutor em psicologia clínica e mestre em filosofia. Professor e Líder da área de Comunicação e Artes da ESPM.

   

 

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