Na última semana, foi lançado um novo álbum do Pink Floyd: The Endless River. Como todo lançamento da banda, ele é envolvido em grande expectativa. Ela sempre soube se promover comercialmente, com sua aura de mega-banda de rock progressivo, desde o final dos anos 60. Minha cópia veio via ITunes e, enquanto ouvia pelo telefone, entrei na Livraria Cultura e o álbum estava tocando lá. Não sei dizer quantas vezes e em quantas mídias já adquiri álbuns da banda: vinil, cd, cd masterizado e remasterizado, dvd-audio, arquivo do ITunes, vídeocassete, Laser disc (alguém se lembra? do tamanho de um vinil, prateado como um cd, com um buracão no meio, informação dos dois lados e caro para dedéu), dvd, blu-ray, e, em breve, vinil….

Para quem começou a ouvir música nos anos 70 como eu, o Pink Floyd é uma banda que acompanhou nossa formação musical. Acompanho cada lançamento desde The Wall, em 1979. Este disco antológico se transformou num filme de Alan Parker (que uso anualmente para dar aula sobre psicose), mais foi o último disco da série que tornou a banda um marco na história do rock. Pense-se (ouça-se) discos como The Dark Side Of The Moon (1973) e Wish You Were Here (1975). Depois de The Wall, um enfadonho disco em 81 e a ruptura entre o letrista e baixista Roger Waters e os demais.

Depois de uma grande disputa judicial, foi feita uma partilha na qual Waters levou a marca “The Wall” e os demais, sob a liderança do guitarrista David Gilmour, a marca “Pink Floyd”. A força da banda e da música e foi enorme e os dois lados conseguem ainda hoje render shows de impacto. O Pink Floyd lançou dois discos de inéditas e alguns shows ao vivo, mas toda a força está em Gilmour, com sua guitarra e voz inconfundíveis. Ele próprio gravou um álbum solo excelente em 2006, On An Island, com a participação dos dois outros membros da banda, mas sem o peso de corresponder ao padrão e estilo da marca Pink Floyd.

Sai agora o álbum The Endless River. Em entrevistas, Gilmour tem dito que o lançamento é uma homenagem póstuma ao tecladista da banda, Rick Whright, morto em 2008. A base das faixas são passagens gravadas e não aproveitadas anteriormente, com uma presença diferenciada dos teclados. Wright não era um tecladista de destaque, como foi comum nas bandas de rock progressivo, mas compunha algumas harmonias e ambientes delicados. Quem quiser ouvi-lo em destaque, pode ouvir sua voz e piano numa ótima canção do disco Atom Heart Mother: Summer´68.

Voltando ao álbum novo, ele é quase todo instrumental (há uma única faixa cantada) e não possui destaques muito notáveis entre as faixas. Trata-se, sobretudo, de um ambiente, um envelope sonoro que nos envolve com a guitarra característica e imediatamente reconhecível de Gilmour. Isto ao lado da estranheza de estarmos ouvindo algo que é ao mesmo tempo um lançamento e a presença dos teclados de alguém que já morreu. O fluxo das faixas ao longo de quase uma hora é evocação ao “rio sem fim”, mas é inevitável a sensação de que este rio, depois de uma jornada de quase 50 anos, está minguando.

Não sei (estou curioso para saber) como o álbum soará a quem o ouça sem a base de memória e sentido de quem cresceu ouvindo o Pink Floyd. Talvez pareça uma música de fundo, sem pressa e precisando urgentemente de um “remix”; talvez pareça um lançamento oportunista, sem interesse musical real e só uma isca para fãs. Ou talvez ela envie a um lugar diferente e introspectivo, onde se pode repousar.

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Pedro de Santi

Psicanalista, doutor em psicologia clínica e mestre em filosofia. Professor e Líder da área de Comunicação e Artes da ESPM.

   

 

 

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