No meio do mês de julho, foi lançada no NETFLIX a série Stranger things, com 8 episódios. A série fez um sucesso instantâneo, notavelmente no Brasil. A jovem e excelente protagonista, Millie Bobby Brown, postou um agradecimento simpático ao publico daqui .

A série é daquelas viciantes e integra mistério e ficção científica, com um sabor característico de anos 80, talvez até mesmo 70. Não sei dizer, é claro, se houve a intenção de relacionar o mistério de desaparecimento que inicia a série e o recurso a atores desaparecidos, mas a memória afetiva daqueles que têm estas referências certamente é provocada e integra a reação à série. Tudo compõe um ambiente de significações.

Neste post, gostaria apenas de apontar alguns elementos de memória que me foram evocados. Imagino que haja mais inúmeras referências que me escaparam.

Como muita gente percebeu, há uma ambientação que evoca filmes do Spielberg, nos anos 80. Há a evocação das experimentações com drogas alucinógenas nos anos 70. Há a presença de dois atores de que gosto muito, e tiveram seu auge nos anos 90.

Matthew Modine tem no currículo filmes com grandes diretores, como: Asas da Liberdade (Birdy, de Alan Parker, 1984); Nascido para matar (Full Metal Jacket, de Stanley Kubrick, 1987) Cenas da vida (Short Cuts, de Robert Altman, 1993). E Winona Rider esteve em filmes como Os fantasmas se divertem, (Beetlejuice, de Tim Burton, 1988); Drácula de Bram Stocker (Francis Ford Coppola, 1992); A época da inocência (The age of innocence, de Martin Scorcese, 1993). Com este currículo parcial e já impressionante, os dois basicamente sumiram. Winona Rider reapareceu num filme de destaque, mas num papel secundário, em Cisne Negro (Black Swann, de Darren Aronofsky, 2010). E ali, ela já aparecia com pinta de louca, como na personagem que faz na série.

E o que dizer do nome da atriz protagonista, Millie Bobby Brown, que contem simplesmente o título de uma das músicas mais ácidas do Frank Zappa, dedicadas à crítica do american way of life? (Bobby Brown goes down, 1979). O nome não foi criado pela série, mas é um elemento a mais a criar associações e ressonâncias.

Há um bom contingente de ironias e cartas viradas de cabeça para baixo nesta série. Os caras são bons.

Se isto tudo evoca um sabor antigo cativante, o terror e nossa fascinação por ele são eternos e tem sido mais do que provocados no mesmo mês de julho. Como seria bom se pudéssemos viver o terror apenas pelas vias simbólicas, longe do real onde ele tem estado instalado.

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Pedro de Santi

Psicanalista, doutor em psicologia clínica e mestre em filosofia. Professor e Líder da área de Comunicação e Artes da ESPM.

   

 

 

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