Scorcese já dizia: “A comida diz tudo que você precisa saber sobre como as pessoas vivem e quem elas são.” O que exalta o quanto o significado da comida e o ato igualmente significativo de comê-la foram cimentadas nos filmes. Cozinhar e compartilhar refeições é uma daquelas coisas, que se paramos para pensar, são particularmente cinematográficas; todo o delicado drama humano que se desenrola ao redor da mesa de jantar.
Ao longo de sua carreira, Steven Spielberg foi (e ainda é) conhecido por suas aventuras espetaculares, por trazer vida aos sonhos e os medos da nossa infância e dar cor à contos históricos e histórias que nos tiram do chão e do sério. Talvez seja por isso que nos surpreendemos quando descobrimos que a cena que está presente em todos os seus filmes seja uma tão humilde quanto os personagens à mesa de jantar.
O diretor, de fato, construiu um portfólio fantástico ao redor da mesa de jantar. Tais cenas não apenas temperam sua filmografia, como destacam a preocupação duradoura do diretor com a família e a importância do sentimento de pertencer a um lar; atuando em cada um de seus filmes como uma janela temática reveladora e consistente. A forma como Spielberg monta a mesa em si já diz muito sobre a história que ele quer contar: as mesas de jantar bagunçadas de Minority Report (2002) e Guerra dos Mundos (2005), por exemplo, espelham sinais de uma vida aos pedaços, de tudo de errado que aconteceu ou está prestes a acontecer aos personagens.
Além disso, as passagens ao redor da mesa de jantar são responsáveis por revelar o verdadeiro cerne de uma história classicamente “spielbergiana”: São os momentos que instigam os pontos de virada, a calmaria que precede a tempestade das grandes aventuras tão características do diretor. É diante da mesa que seus personagens se veem obrigados a lidar com suas dúvidas e medos antes de decidirem se tornar parte da ação. É um último olhar a vida familiar tranquila que estão prestes a deixar, a cena em que o protagonista se torna o herói.
O favorito da sessão da tarde, E.T: O Extraterrestre (1982), serve como exemplo perfeito: É na cena do jantar que é estabelecida a dinâmica da família. Elliott está lutando para ser ouvido, Gertie serve como um inocente alívio cômico, Michael é o irmão mais velho e agressor, e sua mãe está fragilizada e sofrendo. É quando você descobre sobre o divórcio, que afeta tudo o que está acontecendo entre os personagens. Tem quase 3 minutos de duração, mas é de uma profundidade significativa, que costura harmoniosamente os acontecimentos e se torna essencial para toda a narrativa que se segue.
Existe alguém que faz as cenas da mesa de jantar melhor que Spielberg? Isso pode ser debatido, mas verdade seja dita: Steven Spielberg sabe usar dessas cenas com uma maestria extraordinária para impulsionar suas histórias, expor conflitos, aumentar a tensão e construir personagens inesquecíveis.
No vídeo ensaio a seguir você pode ter uma análise mais aprofundada das semelhanças e significados das cenas da mesa de jantar de Spielberg: