#Comportamento por Luiz Filipe Motta
Na passada semana de Quinta Loka, o intervalos da ESPM apresentavam uma trilha sonora peculiar: uma banda que marcou a geração dos pais de boa parte dos alunos invade os alto-falantes da quadra velha. Entretanto, a voz doce a as palavras duras de Renato Manfredini Júnior eram recebidas como se retornassem a casa. A cada música, a cada refrão, era possível ouvir um coro, entre as conversas e risadas que permeavam o descanso dos estudantes. Todos comemoravam a escolha da temática do evento: uma homenagem à lendária Legião Urbana. No entanto, cada ingresso vendido aumentava as dimensões da enorme interrogação que paira sobre essa observação: por que o punk-rock brasiliense do fim dos anos 80 ainda desperta tamanha admiração numa juventude que vive em tempos tão
diferentes daqueles em que Renato Russo
perguntava “que país é esse”?
Sucessos como Eduardo e Mônica, Faroeste Caboclo e Tempo Perdido são, ainda hoje, hinos da juventude de classe média e média-alta, e não à toa. A sonoridade simples, porém cativante, e as letras bem elaboradas sobre temas juvenis são ainda universais. O célebre verso “somos tão jovens“, de Tempo Perdido, não poderia ter sido escrito de forma mais acertada. As músicas da Legião Urbana são jovens, e nunca deixaram de ser. Questionamentos como os de Há Tempos são típicos da juventude como um todo, e não de uma geração específica. O mesmo vale para histórias como as de Eduardo e Mônica e Faroeste Caboclo. Até as letras mais politicamente críticas do grupo apontam problemas que há séculos assolam o Brasil e existem ainda hoje, como a corrupção e a desigualdade social. Ainda que seja menos politicamente engajada que a geração dos anos 80, a juventude de hoje enxerga os mesmos problemas. Por isso, se identifica com a indignação sincera presente nas músicas não só do Legião Urbana, como de diversas outras bandas da mesma época e estilo. Um grande exemplo disso é o Capital Inicial. Formado junto com a Legião Urbana, a partir da cisão do Aborto Elétrico, o grupo herdou composições e influências dessa época, e ainda hoje faz muito sucesso com uma setlist mista de antigas e novas canções.
A lotação máxima da Geração Quinta Loka – Legião Urbana e o brilho nos olhos de cada aluno que conseguiu seu disputado ingresso são evidências do sucesso duradouro de uma banda e, especialmente, de um compositor, que conseguiu cunhar, em versos poeticamente claros e extremamente expressivos, um sentimento eterno de juventude. Responsável e irresponsável, arredia, mas com as melhores intenções. Portanto, não é estranho que juventude de hoje se fascine pelas canções da juventude de ontem. Afinal, somos, todos, tão jovens.
Tempo Perdido é enquanto você não segue o @NewronioESPM.
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