De todas as oposições que eu poderia fazer sobre esse fato, admito que talvez tenha nascido para ser uma arcadista.
Eu nasci para ver o pôr do sol do lado de fora ao invés de estar sentada atrás da janela fazendo tarefas. Eu nasci para não me encaixar nos padrões que criaram, para ouvir músicas, ler livros, desenhar, refletir, rir, conversar, conhecer: nasci para viver da maneira mais pura possível.
Talvez não uma trovadora. Não sou dessas de se lamentar pelo amor perdido ou não correspondido.
Nesse sentido, também não seria uma humanista, racional demais para mim.
Sobre os clássicos, nem comento. Redondilhas e medidas novas eu quero bem pra lá.
Sendo uma barroca, estamos quase lá, mas o contexto, mesmo que intrigante, é bruto demais para me conformar.
Sobre os românticos, até que gosto. Apesar do ultrarromantismo, a fuga da realidade e até mesmo o mal do século me pegam de jeito.
Chegamos então no tão amado realismo. Digo, o tão amado Machado de Assis. O tão amado crítico, sarcástico, irônico, verdadeiro e necessário. Cobiça, inveja, sociedade de aparências, desigualdade social. Os textos de Machado vão fazer sentido para sempre.
Naturalismo, determinismo e O Cortiço falam por si só.
Parnasianismo, esse nome encantador me confunde pela beleza mas deixa muito a desejar. Aqui voltamos ao estético, à bela época, à perfeição e à preocupação excessiva. Ouso dizer que abusa da falsidade e me faz desconfiar das palavras do Hino.
Mas ah, o simbolismo, não tenho nem o que dizer. Ritmo, rima em versos livres, aliterações e assonâncias: o que seriam dos poemas sem isso. Simplicidade, linguagem cotidiana, psicanálise com viés crítico, nada melhor do que isso.
Modernismo, ode ao burguês e vamos repensar a identidade nacional e jogar fora aquela que já me chegou pronta. Muita diversidade, realidades e diferentes gerações. Eles tinham confiança no que estavam fazendo.
Então cá estamos novamente nos árcades. Talvez não seja a melhor escola literária, mas nessa viagem de literatura aprendi com Machado a não ser um medalhão, uma pessoa de aparências, então admito que sim, eu amo o arcadismo. Mesmo me opondo à estética do movimento, o assunto me importa mais. Eu gosto de pensar, mas não muito. Gosto de me sentir parte da vida na cidade, mas até certo ponto. O que gosto mesmo, sem dúvida alguma, é buscar o equilíbrio e aproveitar o momento.
Enfim, eu nasci para um estilo de vida boêmio, nasci para ser um bom vivant amante e em busca dos prazeres da vida. Fazendo das palavras de Guimarães Rosa as minhas:
“Ah! Acho que não queria
mesmo nada, de tanto
que eu queria só tudo.
Uma coisa, a coisa, esta
coisa: eu somente queria
era – ficar sendo.”