O sucesso de títulos como “Jogos Vorazes“, “The Purge“, “Nerve“, “Saw” e “O Poço” revelam um padrão: mostram que nossa sociedade parece amar filmes e séries em que seres humanos jogam alguma espécie de jogo com alto risco de morte. Talvez seja a vontade absurda de obter alguma espécie de adrenalina ou talvez seja uma herança cultural que vem sendo construída desde a Roma Antiga quando havia o grande espetáculo dos gladiadores.
Independentemente disso, nós chegamos ao mais novo lançamento da Netflix, o dorama coreano que já estreou no top 5 em mais de 83 países: Squid Game.
Squid Game ou Round 6 tem como premissa contar a história de quatrocentas e cinquenta e seis pessoas que acabaram numa competição cheia de reviravoltas onde nem todos saem vivos.
Todas essas pessoas, com dificuldades financeiras, são convidadas (jamais forçadas, hein!) a jogar um misterioso jogo de sobrevivência. Round 6, em meio a isso, propõe uma análise incrível do comportamento humano perante o instinto de sobrevivência.
Competindo em uma série de jogos infantis tradicionais, mas com reviravoltas mortais, eles arriscam suas vidas para competir por um prêmio de ₩45,6 bilhões (US$ 38,5 milhões). Infelizmente, já é de senso comum que o dinheiro move montanhas. Nesse caso, moveu todo e qualquer consenso moral.
Assim como Jogos Vorazes, esta série aborda muito bem a desigualdade social, mostrando com perfeição a sujeira da classe alta que aposta dinheiro nos competidores e se aproveita de sua vulnerabilidade como forma de entretenimento. Ação que, se analisarmos bem, acontece em nosso mundo, afinal, esse conceito está presente em elementos muito comuns de nosso cotidiano. Por exemplo, o programa “Caldeirão do Huck”, no qual pessoas de classe social baixa competiam por alguma forma de remuneração financeira.
Voltando à série, acho válido destacar que o enredo funciona com perfeição. A série é composta por apenas 9 episódios, todos sendo extremamente instigantes e te fazendo querer mais e mais.
O final da série é levemente previsível, mas de maneira alguma desmerece o esplendor dessa produção. Sem economizar nos efeitos práticos e na construção dos cenários, a experiência assustadora de assistir ao Squid Game te causará calafrios.
É legal analisar que o livro clássico e filme”Senhor das moscas” (1954 /1990) tem a mesma abordagem que o dorama. Afinal, estas obras são reflexões sobre a teoria de Hobbes. Este foi um filósofo do período entre os séculos XVI e XVII que apresentou sua visão sobre a natureza humana na obra “O Leviatã“. Mas o que essa tese mostra? Que, para Hobbes, a natureza humana é má.
Na série Squid Game, a bondade no ser humano é constantemente questionada nas pequenas ações, através de momentos que machucam e destroem até quem está seguro no conforto do sofá de sua casa assistindo à série.
Tanto “Squid Game” quanto “Senhor das moscas” utilizam da ficção e da “realidade” para mostrar que a natureza humana é mesmo má. Porém, o brilho é que ambas mostram essa “maldade original” sem tirar do espectador a fé na humanidade. Jogos mortais, Purge, O Poço, Battle Royale e até o icônico Jogos Vorazes também fazem isso. É surreal afirmar que Squid Game supera expectativas causando desconforto até em telespectadores que já assistiram a todas as outras obras.
Outro golaço por parte do produtor (Hwang Dong Hyuk) foi a escolha de elenco. Com uma série de atores incríveis foi possível construir personagens humanamente maus, todos únicos e individualmente egoístas, à sua própria maneira.
Vale destacar a verdadeira estreia de HoYeon Jung, uma modelo (e agora oficialmente atriz) coreana que cativou o público com sua beleza andrógina e atuação incrível. É impossível não amar sua personagem na série. Uma curiosidade é que ela ficou conhecida após ter sido apontada pela Vogue como “Korea’s next top model”.
Para finalizar, essa série apresenta diálogos e cenas de ação inesquecíveis que merecem e vão ser lembradas no meio do cinema. Uma série que exige estômago mas, com certeza, vale ser assistida.
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