A expressão é lida, em geral, como negativa; num mundo em fluxo e sempre em versão Beta, a disponibilidade para a mudança deve ser a atitude mais positiva. Nesta semana, tivemos a oportunidade de ver dois lados desta moeda.

Na última terça, aconteceu na ESPM o Fórum Tendências em Comunicação. O evento foi um grande sucesso, tanto de público quanto de qualidade. Nos eventos da manhã e da noite, foi preciso retransmitir as mesas para os outros auditórios.

Uma quantidade muito grande de temas foi levantada e vai levar tempo para absorvermos o que foi mobilizado.

Neste texto, chamo a atenção para um dos temas da mesa da noite: Os paradoxos da felicidade.

Nela, Gleidys Salvanha, do Google, mostrou a evolução do uso de mídias desde 2002. A mídia televisiva continua sendo uma referência absoluta, mas houve um crescimento espantoso do uso da internet,como sabemos na prática. Por outro lado, ela apontou o quanto os investimentos em mídia não acompanharam o movimento da realidade. O investimento em internet cresceu, mas muito menos que o uso que dela fazemos; a televisão continua centro o centro das ações. Moral da história: o mercado é mais lento e conservador que as pessoas ou, vá, lá, os consumidores. Aqui, resistência à mudança é de fato algo negativo, que emperra o movimento do real.

Nossa professora da pós-Graduação, Rose de Melo Rocha apontou a insustentabilidade da necessidade de viver intensamente cada momento, do quanto isto pode nos conduzir de uma condição de seres desejantes para a de seres dependentes. Colocar a felicidade como meta da vida pode se tornar uma armadilha.

Outro convidado da noite, o filósofo Vladimir Safatle (Colunista da Folha, ex-aluno da ESPM e um dos criadores de nosso mestrado) trouxe outra dimensão da questão. Ele analisou em profundidade o quanto o discurso da mudança tornou-se uma parte do próprio processo produtivo. Foi preciso internalizar nas pessoas o imperativo de sempre produzir mais, sempre se mover, sempre mudar. Isto é reiterado até parecer natural e necessário. Quem se vir oprimido por este imperativo exaustivo e sobre-humano, só tem uma forma de manifestar a sua não adesão: deprimindo. A depressão seria a declaração de “nada desejar”, “sair do fluxo de ter que ter sucesso ser feliz continuamente”.

Como já escrevi em outras oportunidade: em alguns sentidos, a depressão pode ser um “surto de lucidez”. Acrescentando a fala inspiradora do palestrante: perceber que resistir à mudança pode ser um modo de se tornar sujeito da própria vida e sair do campo da alienação coletiva.

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Pedro de Santi

Psicanalista, doutor em psicologia clínica e mestre em filosofia. Professor e Líder da área de Comunicação e Artes da ESPM.

   

 

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