Sinapse por Lucas Youssef, 14/04/2010
Segredos. Vidas duplas. Vergonhinhas bestas. A identidade em pedaços… Tudo compartilhado na internet. Parece estranho, mas o desabafo virtual só cresce. Estão surgindo os anti-segredos, que existem para serem revelados, e não guardados realmente. A internet se tornou a praça para todos contarem esses anti-segredos.
O Twitter, rede social do momento, apesar de ser basicamente uma rede de reclamações (todos nós sabemos disso), aponta várias histórinhas secretas e outras coisas que não seriam facilmente descobertas em conversas de almoços. Tem muita coisa interessante perdida entre os tweets, você já leu e provavelmente já escreveu um também. Eu, por exemplo, descobri que minha professora do colegial apanhava da vizinha menor quando era criança. Ela nunca teria revelado isso em sala. Nenhum impacto real na minha vida. Mas foi interessante saber aquilo. Bobeira que fez bem e a trouxe um pouco mais para perto, de alguma forma. Tudo bem, isso é meio piegas. Mas eu sei que não sou o único, aconteceu com todo mundo.
O formspring, é outro exemplo de rede social que envolve o que é secreto – às vezes não tão secreto. O conteúdo é basicamente formado por perguntas e respostas sobre assuntos variados e quase sempre inusitados. E tem muita gente que acaba revelando o que ninguém esperaria – e não falo só dos que respondem às questões. O legal é que os sigilos saem de sua esfera obscura por que alguém pede e não apenas porque o detentor deles decide espontaneamente contar. O formspring precisa dessa ponte para funcionar.
Mas já havia se tornado comum compartilhar segredos na internet antes dessas redes começarem a engatinhar. Num site chamado Post Secret as pessoas enviam cartões postais, de qualquer parte do mundo, com frases reveladoras, tudo sem entregar suas identidades. O site posta as melhores e muitas das frases são tristes, uma amostrinha do desespero que alguém sente. E os cartões são quase sempre bem recebidos, simplesmente porque temos os nossos também e a empatia é automática. Em outro site, o Fuck My Life, existem milhares de história de gente comum que se deu mal de algum jeito e que compartilha seu azar com a grande rede, as histórias são muito engraçadas, apesar de uma ou outra tragédia. O sucesso dos dois sites foi tanto que ambos têm uma coleção de livros lançada e perfis de twitter bombados (@postsecret e @fmylife).
Por mais que a internet permita essa relação nova com nossos segredos é preciso cuidado. Escancarar seu mundo pessoal no virtual parece nada de mais hoje, tempo em que revelações realmente escandalosas são esquecidos em questão de dias. Mas pense o quanto você acharia estranho ver alguém andando por aí com seus segredos estampados no corpo, como se sua vida fosse, quase literalmente, um livro aberto para absolutamente todos. Estranhíssimo. Ou normalíssimo.
Quantos aos porquês do começo do post, eu diria que o principal motivo para contá-los é dividir o peso que têm e deixá-los menos importantes. E se esse peso for dividido com centenas ou milhares de pessoas, melhor, cada um carregará a sua pequena parte da culpa alheia só por saber também. Simples assim. Desabafar. Não é uma resposta inspirada e iluminada, mas é o que move essa rede de segredos.
Twitter: @yousseflucas @NewronioESPM