#éoquetemprahj por Mariana Carvalho

O texto abaixo foi retirado do site de Leonardo Trevisan, professor da ESPM-SP. Vale a visita!

Por Leonardo Trevisan

É um pouco estranho, mas a mídia não deu maior atenção aos ganhadores do importante Prêmio Pulitzer de jornalismo nos EUA .

Deve ser pela importância dos fatos do dia, a começar pelo aviso da agência de risco Standard & Poor’s de que pode reduzir sua perspectiva para a dívida soberana dos EUA. Isso significa mais ou menos dizer que em algum momento, se tudo continua como está no déficit público, quem comprou título do governo americano pode ficar a ver navios.

Ou seja, o mundo todo, porque bem mais da metade das reservas cambiais da maioria dos países são formadas por esses títulos.

Talvez, exatamente por essa razão, seria melhor prestar mais atenção em que ganhou os Pulitzer neste ano. A maioria dos prêmios foi dada para matérias com componentes econômicos, em especial relativos às maracutaias que envolveram o sistema financeiro norte-americano na crise do subprime.

Vale acompanhar que tipo de matéria ganhou o Pulitzer. O The Los Angeles Times ganhou com uma  série de reportagens sobre os impressionantes salários de governantes locais de uma pequena cidade califoniana, de Bell, exatamente quando a maioria da população amargava uma recessão brutal no estado.

Los Angeles Times descobriu que o prefeito de Bell conseguiu por  “vários meios” um salário de US$ 800 mil anuais… nada mal!! O prefeito e mais sete funcionários acabaram presos.

O mesmo jornal ganhou o Pulitzer de fotografia, para Barbara Davidson, com fotos reveladoras das ações de intimidação das gangues que dominam áreas urbanas inteiras de Los Angeles. O The New York Times empatou com o Los Angeles no número d e prêmios. O NY Times ganhou com reportagem internacional de Cliford Levy e Ellen Barry sobre a crescente corrupção na Rússia. O jornal de Nova York ganhou também o prêmio de melhor comentário com as colunas de David Leonhardt pela “agradável simplificação” que esse jornalista faz das complicadas questões econômicas, principalmente o déficit público e a reforma da saúde.

Vale notar que pela primeira vez, desde que Rupert Murdock comprou o The Wall Street Journal, que esse jornal recebeu um Pulitzer, destinado a Joseph Rago por seus “editoriais bem construídos e contra corrente, desafiando a reforma da saúde e previdência defendida pelo presidente Obama”. Esse colunista é uma voz conservadora e bem crítica das reformas democratas, mas extremamente bem informado e sério. A Universidade Colúmbia, que concede os prêmios, confirmou sua independência com essa outorga.

O  destaque da edição deste ano do Pullitzer voltou a ficar com a agência de notícia sem fins lucrativos chamada ProPublica, criada em 2008. No ano passado, a agência ganhou com reportagens sobre o drama dos pacientes infectados pelas águas do  Katrina em New Orleans e neste ano por destrinchar a crise em Wall Street usando diferentes ferramentas digitais para explicar as engenhosas  formas de enganar  o distinto público dos executivos dos grandes bancos. Um jornal local, o Milwakee Journal Sentinel também ganhou um Pulitzer usando ferramentas digitais novas para explicar uma complexa matéria de saúde.

O jornal espanhol El País publicou hoje uma extensa matéria sobre os ganhadores do Pulitzer. A matéria está no endereço:

http://www.elpais.com/articulo/sociedad/Pulitzer/premian/periodismo/economico/elpepusoc/20110418elpepusoc_13/Tes

Talvez, tão importante quanto explicar a importância do aviso da Standard & Poor’s sobre a dívida pública dos EUA, seria contar quem ganhou destaque por explicar porque se foi tão fundo no poço naquele país. O aviso da agência de risco tem um componente político muito forte, de acalmar os radicais do Congresso contra a tentativa do Poder Executivo de conter a crise.

É possível até pensar que os responsáveis pelo Pulitzer na Universidade de Columbia estão tão preocupados com a situação do país quanto o pessoal da Standard & Poor’s.

Embora, muita certeza sobre essa preocupação comum nunca se terá.

Para outros textos interessantes, acesse: www.LeonardoTrevisan.com.br

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