Aposto e ganho que o mundo seria um lugar melhor se tudo fosse cantarolado, literalmente um musical. De fato, os Estados Unidos têm influência na criação de tal utopia, esse conceito foi impregnado da Broadway para os teatros do Brasil, fazendo com que a nossa atenção ficasse centrada apenas em musicais. Pode ser que eu esteja equivocado, mas então responda: Quando foi a última vez que você foi ao teatro? 

Parece que quando se fala de teatro as pessoas só pensam nos palcos com cenários impecáveis e os atores e atrizes vestidos em figurinos fabulosos, mas e aqueles em que o elenco improvisa apenas com os elementos colocados em cena (quando há algum objeto no cenário). Isso não quer dizer que eu não ache que os musicais não mereçam a atenção que recebem, pelo contrário, só penso que um não deveria excluir o outro. 

Façamos então um outro questionamento: Ir no Teatro Santander assistir Wicked ou no Teatro Renault ver O Rei Leão pela 19ª vez em São Paulo, e pagar no mínimo 200 reais em uma cadeira, ou ir em qualquer Sesc da cidade, ver uma peça que lhe interessa, e pagar no máximo 50 reais. Ficaria surpreso em perceber que o mais barato das duas opções é o que a plateia nunca vai estar cheia, mesmo tendo também o menor número de poltronas no espaço? 

Não tem nenhum embasamento teórico e nenhum dado específico, nenhum dos “fatos” que trouxe no texto, só é importante destacar que o teatro está um tanto quanto necessitado, e é por conta disso que trago uma dica chamada de Veraneio. Não é o carro antigo da Chevrolet, e sim uma peça escrita e estrelada por Leonardo Cortez, que voltou da pandemia com esse texto e com a parceira do diretor Pedro Granato. 

A dupla havia feito uma outra obra no pré-Covid chamada de Pousada Refúgio, inspirado em um acontecimento real da vida do Léo, e Veraneio não se difere muito disso. Digo isso porque, assisti as duas peças e percebi que se baseiam naquela frase “pior que tá, não fica”, mas acredite, vai ficar. A peça é um reflexo do momento de redescobertas que foi a pandemia, fazendo as pessoas repensarem mais sobre o mundo ao redor, as pessoas que giram no círculo social e elas mesmas.  

Por um momento, a questão da família é considerada a engrenagem que faz tudo funcionar ali dentro do roteiro, mas depois que o personagem do Rubinho aparece em cena, interpretado pelo hilário Maurício de Barros, você não consegue tirar os olhos dele.  

E por mais que o Rubinho seja o responsável pela maioria dos acontecimentos, ele não ofusca ninguém com quem divide o palco, já que o elenco, composto por Clarisse Abujamra, Glaucia Libertini, Leonardo Cortez, Sílvio Restiffe, Tatiana Thomé e Maurício de Barros, é uma escolha fenomenal, encaixando perfeitamente com cada uma das personas. Essa peça está dentro da categoria que quanto menos souber sobre o que se trata, mais você vai desfrutar da experiência. Então sugiro que apenas compre o ingresso e vá até o Teatro FAAP nas quintas-feiras, às 20h30 até 29 de junho. 

Não foi um jabá, apenas uma indicação do que ir assistir em alguma quinta-feira até o final de junho, e um desabafo, sobre uma classe de artistas que merece o devido reconhecimento, que precisa de uma conclusão. Cultura é conhecimento, seja ele escrito em livros, transmitido em rádios e podcasts, passando no cinema e no streaming, ou até mesmo interpretado nos teatros, mas é necessário de um receptor para passar as mensagens. E por mais que o cinema, a TV e as músicas são parte da cultura que crescem a partir da boca a boca e outras formas de compartilhamento, o teatro é uma arte milenar que infelizmente é totalmente dependente disso. Portanto, pergunte e incentive: Quando foi a última vez que você foi ao teatro?