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Professor, sim, protagonista, não mais

By Eric de Carvalho

November 12, 2023

Muito já se falou sobre narrativas, mitologias, histórias e suas estruturas. A jornada do herói é citada em toda narrativa mainstream do audiovisual. Um dos elementos recorrentes da jornada é a presença do mentor, o professor que ensina técnicas e éticas ao protagonista.

Desde jovem, sempre me perguntei “poxa, se ele é tão bom assim, ele não é melhor/mais competente que o protagonista”?  Yoda, Pai Mei, Morpheus, não seriam mais competentes para confrontar o vilão e enfrentar os perigos que se revelam?

Bem, a resposta raramente é abertamente declarada, mas está sempre lá: o que difere é que o professor é mais velho. Sua principal limitação é etária, o cansaço do corpo. Mestre Splinter e as Tartarugas Ninjas, Stick e Demolidor, Pai Mei e a Noiva. Os mestres possuem cabelos brancos, longas barbas, com frequência utilizam uma bengala. Aprenderam a ética que ensinam por meio da experiência; por vezes, não entenderam quando escutaram, mas aprenderam posteriormente, a duras penas, com derrotas, frustrações e perdas, desenvolvendo sabedoria e tendo a oportunidade de ensinar a alguém mais jovem, mais saudável e mais disposto, para que esse aprenda, possa colocar a ética em prática e até superar o mestre.

A superação do mestre é outro ponto importante. Demolidor, Luke Skywalker, Neo, são os escolhidos. São jovens, por vezes rebeldes, teimosos, mas aprenderão, infringirão algum dogma que seu mestre nunca infringiu e vão resolver os problemas e superá-los. São narrativas mais que reais: a sabedoria é exponencial, o aprendizado é contínuo e não se fazem omeletes sem se quebrar uns ovos.

No meu status atual, entendo com tranquilidade que o professor não é o protagonista. É aquele que ensina passos, dá seus palpites, erra, sempre com grandes consequências, mas ensina mesmo pelo erro. O aluno é o herói. É o protagonista e será o professor do futuro.

Em contraponto a esse formato clássico de narrativa, mas, paradoxalmente, o reforçando, encontro a série (o universo) Star Wars. Não sou grande fã, nem aficionado por Star Wars, mas acompanhando suas séries, consegui criar um interesse especial por um aspecto em específico que amo em suas histórias: a relação dos mestres jedis e seus padawans.  

Conheci ObiWan como uma imagem fantasmagórica de um idoso, Yoda como um idoso ermitão em um pântano; o encerramento da trilogia original trazia os fantasmas dos dois idosos, orgulhosos e acompanhando seus padawans. A cena emblemática ganhou mais força quando surgiram as histórias nas quais Obiwan não era um fantasma de um idoso, mas um aluno dedicado; posteriormente, vieram as histórias nas quais se tornou um mestre e mudou parte de sua atitude, treinando Anakin Skywalker, que viria a se tornar o temido vilão Darth Vader. Mas novas histórias retratam o rebelde e prodígio Anakin se tornando, de um grande jedi, em um atencioso, porém apaixonado, mestre da “abusada” (audaciosa) jovem Ahsoka Tano. Por fim, a série de Ahsoka mostra sua conflituosa relação com sua padawan Sabine Wren, também rebelde, audaciosa e abusada. Sem dúvida, a grande narrativa dessa deliciosa série.

É bom ver as versões jovens desses mestres: mais passionais, emocionais, intempestivos. Hoje mais cautelosos. Mais sábios? Provavelmente, não. Mas mais experientes e cascudos com a experiência que tantos erros traz. Um bom professor nunca fará um bom protagonista, mas não há um grande protagonista sem um grande mentor.