Sempre fui uma criança, como posso dizer, crescida demais. Eu era preocupada demais, ansiosa demais e talvez até esperta demais para a minha idade. Mas falo esperta num jeito mais geral, como por exemplo: sempre fui boa na escola, mas realmente me interessava pelo mundo, pelas pessoas, pelas coisas e como elas funcionam, e resumindo, eu era, e sou, muito curiosa.
E eu conseguia perceber, desde nova, que eu pensava diferente. Na verdade, eu pensava até demais: eu ficava preocupada com coisas pequenas ou que faltavam meses para acontecer. E eram múltiplas coisas ao mesmo tempo: ou eu não conseguia ficar focada ou eu ficava até demais, a ponto de esquecer do tempo. E apesar de muitos sintomas ao longo da minha vida, minha ficha só veio cair no ano em que mais temos coisas para fazer e viver: o último ano do ensino médio.
Acho importante falar que meu pai é diagnosticado com TDAH e toma medicamento, ou seja, mais uma coisa que me ajuda a chegar ao meu diagnóstico próprio, mas, bom, continuando o que eu estava falando: no segundo semestre de 2022, eu passei por muitos problemas: estava em uma escola onde havia uma carga enorme de matérias, aquelas escolas bem focada para vestibulares de faculdades públicas, sabe?
Eu devia ter sacado que ela não era para mim quando eu era uma de 4 alunas, de 50 no total, que queria uma faculdade privada para cursar algo que não era medicina, nem engenharia. Enfim, essa escola me desgastou imensamente: eu estudava e estudava e minhas notas não rendiam; então, eu apenas parei e desisti. Com a colaboração de um deslocamento da minha ATM e cansaço extremo, foi aí que percebi que eu estava entrando em episódio depressivo grave, de novo. A partir daí, foram médicos atrás de fonoterapeutas atrás de psiquiatras (que dobrou minha dose de antidepressivo) e fui recomendada pela minha coordenadora e por eles que eu saísse da escola e fosse para outra, onde eu conseguiria passar de ano e teria apoio emocional.
No final, acabei voltando para minha antiga escola pelo mesmo motivo que saí: por ela ser fácil. Porém era lá que residiam todas as pessoas que posso chamar de família, apesar de não ter nenhuma relação de sangue, e que me ajudaram imensamente no meu processo de recuperação.
E mesmo com um ensino muito menos exigente, eu ainda devia muitas notas e, provavelmente, teria muitas recuperações por vir, ou seja, continuava a me matar de estudar. Óbvio, não era nem parecido com a carga de antes, mas, por causa de vários outros fatores já citados aqui no texto, ainda era extremamente exaustivo e cansativo, ainda mais porque eu sou muito procrastinadora. Resolvi ir falar com meu psiquiatra sobre minhas preocupações e possíveis sintomas de TDAH; ele concordou comigo em muitos pontos e resolveu propor um experimento: tomaria um remédio para o transtorno por 3 meses e veríamos como meu corpo iria reagir, em seguida, faria um exame para realmente me diagnosticar.
Sabe quando você não sabia que algo existia até você ver ele ou, no meu caso, sentir? Foi assim que eu me senti enquanto tomava o remédio. Eu conseguia estudar, me concentrar e realmente fazer o que precisava e, para mim, o mais revolucionário: eu conseguia ficar em silêncio, sem nada na cabeça, e apenas descansar. Eu tenho certeza que, sem ele, eu não teria passado de ano, entrado na faculdade e escrito esse texto aqui para vocês.
Mas, bom, o período de três meses passou e eu parei de tomar o medicamento, porque, até hoje, eu não consegui marcar a avaliação neurológica e acredito que os efeitos colaterais disso estão me alcançando. A faculdade, apesar de ser sobre algo que amo e me interesso, me lota de trabalhos e provas com matérias pesadas, o que me exaure e o faria com qualquer um, com ou sem manejamento de tempo ideal. Voltei a sentir ansiedade por estar atrasada em alguns trabalhos, de talvez precisar de nota, de não conseguir dormir direito por causa dela, de sentir tensões no corpo e não me incomodar de não fazer algo todo fim de semana, afinal, eu posso dormir e estudar.
Sem falar das crises de hiperatividade, que, muitas vezes, não me deixam dormir, de forma que chego a tomar até 20mg de melatonina para conseguir descansar. Também não consigo ficar completamente parada por longos períodos, como, por exemplo, a famosa perna que fica pulando. Também temos o hiperfoco, que é algumas das raras vezes que consigo me concentrar em algo, mas quando entro eu não consigo sair, pulo refeições e o tempo passa em um blur.
Cheguei a um estopim em que percebi que preciso fazer o exame logo, e também, que preciso me organizar melhor, tanto na vida escolar quanto na pessoal. Preciso tomar meus remédios todos os dias, preciso organizar minhas datas e notas, preciso priorizar o que e quem é prioridade, todas essas coisas sem inter-relação, porque um diagnóstico e um tratamento não vão solucionar todos meus problemas.
E, tendo tudo isso em vista, também acho importante abordar como a mídia nos últimos anos tem tratado transtornos como a ansiedade, a depressão, a dislexia e muitos outros, com tanta banalidade. Não, querida! Você não tem um distúrbio mental só porque o TikTok te disse os sintomas mais genéricos que existem e que podem estar acontecendo por outros bilhões de motivos. Tudo isso faz com que pessoas se dêem o diagnóstico e até comecem a se tratar por algo que não existe.
Remédios assim são fortes e não devem ser dados a qualquer um, não é à toa que é necessário prescrição para tomá-los. Eles também não são mil maravilhas como parecem: é só vocês lerem a bula; eles podem causar múltiplos problemas em nossos organismos, como problemas no fígado e em nosso estado mental. Mas, às vezes, temos que fazer escolhas, por mais difíceis que sejam.
Resolvi, também, falar com uma das minhas melhores amigas sobre o assunto, já que, como eu realmente não tenho laudo de nada além de ansiedade e depressão, acho que trazer a opinião de alguém que lida com esse déficit desde pequena é muito relevante para o entendimento em geral do TDAH, já que, pelo menos eu, a autora do texto, só mostro os sintomas mais superficiais.
Ela diz para mim, em nossa breve conversa, a sua experiência tanto com transtorno, quanto com o remédio que toma, que, obviamente, vai ser diferente de pessoa para pessoa. Em seu relato, ela diz que, muitas vezes, se sentiu dependente do medicamento, seja numa forma mais pessoal, como ao sentir que uma parte dela está faltando se ela esquecer de tomar seu remédio, seja numa parte mais social, achando que as pessoas notarão suas dificuldades e começarão a fazer piadas e críticas como “Você tomou seu remédio hoje?”, “Fica quieta um pouco aí, mano” e “É TDAH, presta atenção”. Lembrem-se amigos: só porque alguém está acostumado com as piadas, não significa que elas não incomodem.
Enfim, acredito que podemos tirar várias lições desse texto, como: devemos tomar cuidado ao nos auto diagnosticarmos; sempre procure uma opinião médica; nada é tão simples como tomar um remédio todo dia (eles podem ferrar o seu corpo). Eu preciso realmente ir em um médico ver o que está acontecendo 👍.