A cada dia, o Brasil se mostra um solo fértil para animação. A repercução internacional de filmes como O Menino e o Mundo (2013), de Alê Abreu e séries como Irmão do Jorel, de Juliano Enrico, apenas reforçam o potencial imaginativo do país para o formato. Há pouco, os olhos do mundo animado se voltaram mais uma vez às terras brazucas, desta vez para o vigésimo quinto ano do Anima Mundi, festival que ocorreu ao longo de julho no Rio de Janeiro e em São Paulo. Na minha única visita à mostra, além de ótimos curtas, pude ver o ‘Papo Animado’ com Robert Valley, idealizados dos icônicos clipes do Gorillaz.

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Na conversa, o animador canadense contou sobre sua trajetória: de um jovem entusiasta dos quadrinhos para indicado ao último Oscar, Robert não se intimidou pela dificuldade de conseguir um emprego no ramo. Sua criatividade e dedicação rapidamente lhe conseguiram um trabalho com a banda estreante do Damon Albarn para a música ‘Clint Eastwood’.

Seu traço estiloso rapidamente tornou-se figurinha carimbada da banda, apoiado pela caracterização dos membros fictícios do grupo. Seus trabalhos posteriores incluem a série animada ‘Shinjuku’ e o curta da Mulher-Maravilha para a DC Nation, os quais foram criticados pelo próprio Valley por limitarem sua liberdade criativa.

Em contrapartida, uma das peças exibidas chamou a atenção: provavelmente o trabalho do qual mais se orgulha, o curta ‘Cidra de pêra e Cigarros’ narra uma história real, vivida pelo animador e Techno, seu controverso melhor amigo de infância. O cunho pessoal é muito forte, a saudade de Techno e a apresentação do seu estilo de vida indiferente e pouco convencional é extremamente tangível, além do cuidado estético impecável, utilizando os recursos narrativos possibilitado pela animação sempre em prol do desenvolvimento dos personagens e da trama. Com pouquíssima influência externa, o curta rendeu uma indicação ao Oscar de melhor curta-metragem animado e garante, em seus 35 minutos, uma experiência imersiva dentro do episódio incomum vivido por Valley.

Por fim, Valley apresentou e contou a história por trás do vídeo ‘Murder One’, do Metallica. Após conhecer (e não reconhecer) o baixista Robert Trujilo em uma mostra de animação, o músico lembrou do portfólio apresentado e imediatamente contatou Valley para a produção do clipe em homenagem à Lemmy Kilmister, frontman falecido do Motorhead. Com apenas sete semanas para concluir o trabalho, seu característico traço e preocupação com a estética não foram deixadas de lado e apesar da pressa, o resultado é impressionante.

Crítico mirim, desenhista amador, escritor júnior e futuro diretor (se tudo der certo).