Documentários sobre crimes passados, casos judiciais, vítimas e injustiçados nunca estiveram tão em alta como hoje em dia. Séries como Making a Murderer foram um sucesso no nível de ficções como Breaking Bad, enquanto O.J Made in America pode ser comparada com Westworld na HBO. Isso não ocorria alguns anos atrás, a possibilidade de documentários estarem concorrendo com séries e filmes de ficção era inimaginável. Mas por que o universo das tragédias reais nos atrai tanto?
Os mistérios de casos que nunca foram resolvidos se tornaram uma espécie de entretenimento. A curiosidade é inerente da natureza humana, ainda mais quando se trata de acontecimentos verídicos, todos buscam um desfecho para certa tragédia – e se ele não é evidente, eis então que surgem as teorias e opiniões. Até hoje é muito discutido se O.J Simpson é culpado ou não, algo capaz de iniciar vários argumentos entre os maiores “fãs”.
Também é possível relacionar a ascensão dos documentários com outro fator da natureza humana: a necessidade de escape, da distração. Algumas vezes o tédio pode nos consumir completamente, e nem sempre uma ficção é suficiente para nos colocar em uma realidade alternativa onde a vida não é monótona. Portanto os documentários sobre crimes são perfeitos para ocupar esse espaço, podendo ser tão emocionantes quanto as séries tradicionais, e o melhor de tudo: reais.
Essa é justamente uma das principais observações de “Quem é JonBenet?“, um documentário sobre o assassinato de uma criança durante um concurso de beleza. No entanto, ele vai muito além disso, pretendendo nos mostrar justamente a dinâmica em assistir a filmes do gênero – se tornando até metalinguístico. Ao invés de focar nos fatos da tragédia, o documentário busca demonstrar como nós absorvemos situações como essa, apresentando as opiniões e teorias das pessoas sobre o caso. Tudo isso por meio de entrevistas com atores que estariam concorrendo a papéis para a recriação da história de JonBenet, provando como experiências pessoais interferem na perspectiva de cada um quanto a casos como esse.
Uma das candidatas para atuar como a falecida JonBenet.
Além disso, o mundo dos documentários pode ser um contraste do que ocorre na “vida real”, na qual cada vez mais procuramos a saber a verdade absoluta – em meio a tantas mentiras. Apesar disso, a falta dela também é o que torna o meio tão interessante, sendo o motivo principal para a própria criação dos projetos.
Outros filmes também passaram a questionar nossas atitudes quando os assistimos, como é o caso de Kate Plays Christine e The Act of Killing que também são reconhecidos pelo aspecto de releitura. No fim das contas, os documentários acabam sendo tanto sobre nós quanto sobre o que está na tela.
Você precisa fazer login para comentar.