Jedis são o principal charme de Star Wars. De fato, são mais legais que todos os outros, inclusive os Siths (polêmica!). Desde os gatos de lightsabers até os memes com mestre Yoda, os guardiões da república já deixaram de pertencer a um nicho e se tornaram ícones pop. Por isso, gostaria de esboçar algumas razões pelo qual nos encantamos tanto com esses personagens.

Primeiro, Jedis representam a espiritualidade em Star Wars. Em meio a instabilidade e alternância de poder entre o Império e a República, eles carregam um tema que transcende a esfera política. São embaixadores da Força, uma potência responsável por toda dinâmica do universo. A Força substitui a ideia de Deus no mundo de George Lucas.

Os Jedis tornam-se signos de tradicionalismo onde não existe religião. Todo mundo lá é meio ateu. Lembremos da cena clássica de “A nova esperança”, em que Darth Vader estrangula um militar após uma reunião (com conversas bastante filosóficas, por sinal). O soldado confiava na tecnologia, representando o plano material, enquanto Darth Vader confiava na Força, representando o abstrato: “I find your lack of faith disturbing”. Os caras convivem com o maior vilão da história e ainda são céticos em relação à Força. Mas tudo bem, funciona como recurso narrativo para dar maior contraste nas diferenças ideológicas. O código de vida pautado na espiritualidade é o que caracteriza os personagens. Não à toa que suas referências visuais são inspiradas em samurais (ícones de espadachins com código de honra) e monges cristãos (ícone de renúncia dos prazeres da vida).

referencias jedi

George Lucas leva a sério a religião em Star Wars e bebe bastante da referência cristã. Profecias, por exemplo, são extremamente comuns. Anakin era para ser aquele que traria o equilíbrio para a força. Apesar dele ter caído, muitas pessoas não percebem que foi ele mesmo, enquanto Darth Vader, que trouxe o equilíbrio e não Luke (lembra quem jogou Darth Sidious lá embaixo?). A profecia estava correta afinal. #chupaobiwan

obiwan

Tá, mas por que gostamos deles?

Explico. Segundo Edgar Morin, um grande pensador e amante do cinema, nossa obsessão pelos personagens se dá por um princípio dialógico de projeção-identificação. Em termos gerais, significa que eles possuem alguns aspectos que desejamos e outros que possuímos. Semelhante aos deuses olímpicos que, apesar da divindade, também carregam traços humanos. Apliquemos isso aos Jedis.

O que desejamos é nítido: além da virtude moral, eles também são os maiores bad ass da galáxia. São habilidosos no combate, sábios, possuem habilidades metafísicas e são extremamente bem sucedidos. Mas com o que nos identificamos com eles? Aqui se encontra o X da questão: Jedis caem. Essa é a principal riqueza destes personagens. Mesmo possuindo todas as proezas da Força, eles também estão constantemente suscetíveis à queda, assim como nós. De certa forma, nos identificamos com esse mito, que é o tema do livro de Gênesis na Bíblia. Um Jedi caído é uma representação adâmica sobre a fragilidade da vida em relação à morte. O lado negro da Força é o fruto em Éden. Aliás, os 3 primeiros episódios se tratam apenas da queda de um Jedi.

anakin caido

Em Nietzsche, a vida do homem já seria uma constante queda, porquanto não existe nada além dela. Para o filósofo, não existem valores, virtudes ou nobreza. É tudo construção humana para a negação de sua existência sem sentido. Seria como “dançar enquanto cai no abismo”. E Jedis dançam muito bem, pois são extremamente convictos. Para os antropólogos, essa é a real função da religião para o homem: a negação da morte. No código Jedi, existe uma antítese para cada ponto da fragilidade humana:

Não há emoção, há paz.
Não há ignorância, há conhecimento.
Não há paixão, há serenidade.
Não há caos, há harmonia.
Não há morte, há a Força.

Jedis são, ao mesmo tempo, nosso desejo de sermos sobre-humanos e nossa paixão por nossa humanidade. Assim como o Luke Skywalker, queremos ser o herói do monomito de Campbell. Por isso a teoria da projeção-identificação de Morin se encaixa como uma luva. Se não for isso, então é só nosso desejo de dar um force-push naquela pessoa chata. Quem nunca?

Force_push_Scanlon

Publicitário nerd metido a psicólogo de cachorro. Mestre em Comunicação pela ESPM e em Epic Fail pela vida.