Um dos subgêneros mais amados e recorrentes na indústria do cinema é o filme de boxe. Construído através de histórias com emoção e personagens fortes, o gênero tão adorado e aclamado possui em sua essência alguns fatores muito importantes para sua construção. Toda a saga e motivacionais de Rocky Balboa, a intensidade na luta de DeNiro em Touro Indomável, a história real dos irmãos Micky e Dicky em O Vencedor e Hillary Swank em uma luta pela vida são alguns exemplos desse gênero que representa uma geração de fanáticos no país.

Podemos dizer que a história se repete do lutador que está em um momento difícil e tem a oportunidade de redenção, mas a maneira como essa narrativa é construída muda por completo. Enquanto não chegamos a luta final, vamos criando uma forte empatia com a figura desse personagem que passa por inúmeros problemas como uma jornada do herói clássica, porém como há um foco muito maior na história humana, o caminho não é o centro da narrativa, mas sim o próprio personagem e suas batalhas interiores.

No entanto, esse não foi sempre o papel desse esporte dentro da indústria. No passado, principalmente na época de Chaplin e Buster Keaton, a luta era vista apenas como uma forma de entretenimento cômico no cinema, serviam como parte de uma esquete de lutadores bastante atrapalhados e com pouco embasamento psicológico/emocional.

Quem estava prestes a mudar por completo o gênero não foi Scorsese ou Stallone, mas sim um dos pais do terror, Alfred Hitchcock. Em O Ringue, de 1927, temos a primeira história que realmente se enquadra no estilo que conhecemos, do lutador rejeitado que consegue ir crescendo até se tornar um campeão de verdade. Porém, Hitchcock usou a luta como o background de algo muito maior, conseguir o reconhecimento e desejo de ser amado. Com essa  premissa quase que fundamental para humanidade, o público consegue se identificar muito com a figura do protagonista ao longo da trajetória dele de irreconhecido para o lutador com fama e sua amada.

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Essa mesma lógica foi panorama para torcermos tanto para o personagem de Mark Wahlberg em O Vencedor, em que ele consegue uma aprovação de sua família e namorada, pois sempre viveu na sombra de seu irmão drogado, Christian Bale. Outros fatores ainda servem como uma motivação, ao longo de sua trajetória, para motivá-lo como a vontade de dar estabilidade para sua filha pagando em dia a pensão e principalmente, ganhar o respeito de todos em sua vida. Ao vencer e se tornar o campeão mundial ele pode ser visto como um orgulho para todos, inclusive sua mãe manipuladora.

Não só por histórias de amor um filme é construído e podemos ver o papel, cada vez mais forte, do gênero para debater temas sobre conflitos sociais como o pobreza e racismo. No filme de Muhammad Ali, além de contar a história do melhor pugilista, abre questionamentos a cerca da disparidade entre brancos e negros dentro dos Estados Unidos. Mesmo que Cassius Clay tivesse mudado seu nome em forma de protesto contra a guerra e para continuar seu legado como um grande boxeador, isso não o deixou isento do preconceito e críticas.

Dentre vários filmes no gênero podemos imaginar como as principais lutas serão filmadas, porém de acordo com a narrativa que o diretor opta por contar, a luta possui um estilo de filmagem diferente. Em Creed, último filme da “saga Rocky”, temos um estilo de batalha mais lento, porém segue um plano sequência para passar todas as frustrações e anseios que o personagem de Michal B Jordan sentia, dessa forma somos carregados ao longo da luta com ele, sem parar e sentimos essa urgência para que tudo se resolva.

Já em Touro Indomável, a batalha se torna mais visceral ao ponto que revela o que realmente é uma luta de boxe: muito sangue e suor.  Scorsese deixa claro e intenso cada soco e movimento dos guerreiros, os detalhes são a carnificina ao invés de habilidade ou técnica que há em outros filmes. Quase que uma forma de abominar, ao invés de exaltar, uma grande luta de boxe, Scorsese deixa tudo bastante intenso.

Seja lutando por um sonho de uma vida melhor, contra uma sociedade preconceituosa ou por amor, os filmes de boxe possuem essa tarefa na indústria de representar e nos mostrar que tudo se trata de uma luta com a vida em si. Dentro e fora do ringue estamos em uma eterna batalha por reconhecimento e adoração, mas não devemos desistir nunca.

Ps: Resumindo bem temos O clássico

 

Com o pé na estrada e a cabeça na lua.