O Newronio entrou em contato com o Ricardo Cappra, que foi um dos estrategistas digitais das duas campanhas presidenciais de Barack Obama. A área de esratégias digitais das campanhas de Obama eram chamadas de “The Cave”. Ele atua como consultor e estrategista de marketing e digital, na Cappra Consultoria. Ricardo é original de Porto Alegre, mas hoje mora em São Paulo. É professor de pós-graduação de Digital Branding na Feevale. Também é vice-presidente da Associação Internacional de Investigadores em Branding, que se propõe a estudar o comportamento das marcas.
Quais outros trabalhos você já realizou nessa área digital? Qual a diferença fundamental entre a construção de uma marca e de uma personalidade política nas mídias sociais?
Sou nativo da área digital, com formação em Processamento de Dados/Análise de Sistemas, então minha visão é um pouco diferente quanto a construção de uma marca em um ambiente digital. Durante minha carreira me especializei na área de marketing digital (digital branding), mas não fez com que eu perdesse a necessidade de aplicar o raciocínio lógico em tudo que faço, sendo que olho para as marcas e comunicação buscando a razão no meio de tanta intuição que cerca esta área. Quando observo uma marca nas mídias sociais, estudo sua performance, analiso o quanto aquilo impacta as pessoas de acordo com suas reações mensuráveis (ou seja, interações), e o que aquilo representa. Isso faz com que eu trate o marketing como uma ciência exata, que acima da intuição, gera estímulos que podem ser analisados, e que estes irão gerar estratégias digitais mais eficientes. Já realizei trabalhos nesse sentido para marcas como Gatorade, Microsoft, Nike, FCBarcelona e obviamente Obama. A partir dessa perspectiva, uma personalidade política não diferencia-se em nada de qualquer outra marca, e não tenho expertise em estratégias de marketing para política, apenas os fatores de mensuração são exatamente os mesmos de qualquer outra marca, o “sistema” é o mesmo.
De onde veio a inspiração e porque resolveram apostar nas mídias sociais na campanha presidencial do Obama de 2008 quando nem mesmos as marcas estavam muito presentes?
Considerando tudo isso, o comitê de campanha do Obama ter escolhido as mídias sociais como principal canal em 2008 foi um caminho meio que inevitável, naquele ano as redes sociais já eram uma realidade para toda população e marcas (Facebook foi lançado em 2004 e o Twitter em 2006), então estar lá era praticamente uma obrigação, o que diferenciou foi a opção de construir uma campanha democrática, onde as pessoas participavam ativamente, inclusive determinando escolhas do comitê com relação a caminhos para a campanha e marca. Com o posicionamento social que Obama queria dar para seu governo, era fundamental escolher um ambiente que propiciasse esse tipo de relação.
Porque você acha que no Brasil, diferente do que ocorreu nas eleições nos EUA, os candidatos ainda não aproveitaram a plataforma digital e suas possibilidades?
No Brasil ainda se faz política como sempre se fez, usando carros de som na rua, panfletos, horário eleitoral obrigatório na TV, isso porque ainda existe uma crença que a maior parte da população não está conectada. Os partidos pensam de forma analógica, terão muita dificuldade para entender que em todo ônibus, rua e região tem alguém acessando a internet com um smartphone produzido na China que custa R$ 250,00 e usando R$ 0,50 dos seus créditos por dia navegar em suas redes sociais. Enquanto se pensar em campanha política no Brasil como um transmissor de uma mensagem para vários receptor, e não como uma conversa, será difícil usufruir dos reais benefícios das mídias sociais. Até que alguém irá fazer bem feito e vencer, então virará moda, e todos os outros atrasados correrão atrás dessa “inovação”.
A importância da mídia social é tanta para Obama, que mesmo depois de ter sido eleito duas vezes, continua utilizando dela, assim como falamos no “Obama, o presidente blogueiro”.