#Contos por Ian Perlungieri

Apenas consegui adormecer depois de onze dias vendo o brilho das estrelas se misturando com a densa fumaça do meu cachimbo.
Porém não foram apenas duas horas de descanso como da última vez, e sim, um descanso de quinze horas.
Quinze horas.
Quinze horas de um descanso que invejo que os outros consigam todos os dias. Quinze horas utópicas. Quinze.
Após acordar eu soube, baseado no tempo que eu havia dormido, que não adormeceria tão cedo novamente. Mas não importava. Eu havia sonhado.
E, com os sonhos, vieram as ideias.
Um quadro. Um belo quadro. Seriam três retratos em uma tela na horizontal. No primeiro retrato havia dois macacos, um cego e um surdo com uma paisagem caótica que lembrava a vida real. No segundo havia dois macacos, um cego e um mudo com a mesma paisagem de fim de mundo. E, no terceiro, dois macacos. Um surdo e um mudo. Porém a paisagem seria bela o bastante para despertar a inveja em Deus.
Lindo! Extremamente metafórico! Todos o adorariam. Todos adorariam a mim.
Havia apenas um problema. Eu não pintava.
Meu quadro nunca se tornaria real e eu nunca seria adorado.
Não sabia o que fazer. Desabafei esse dilema para um amigo meu enquanto degustávamos a fumaça do cachimbo misturado com alguma bebida vagabunda.
Entretanto, ele era pintor. Meu quadro tornou-se dele e, no momento seguinte, ele não era mais o meu amigo.
Raiva. Fúria. Ira. Mais algumas noites sem dormir.
O brilhar das estrelas se misturando com a fumaça do cachimbo e com o gosto amargo da bebida vagabunda e, somente após treze dias, encontrei mais quinze horas de descanso.

Segunda vez que havia conseguido quinze horas. Quinze. O descanso havia me agradado o bastante para surgirem novos sonhos e ideias.
Após acordar soube novamente que meu novo descanso demoraria, mas ignorei a sensação. Ideias surgiram.
Uma fotografia. Brilhante! A imagem sarcástica de uma língua lambendo o chão. Forte. Impactante. Perturbadora. Todos a adorariam. Todos adorariam a mim.
Mas novamente havia um problema. Eu não possuía uma câmera. Pedi para que um amigo me emprestasse a dele. “Por quê?”, ele perguntou. E eu respondi.
Noites e mais um amigo foram perdidos e a raiva reapareceu.
Raiva. Fúria. Ira. Ódio.
O brilhar das estrelas se misturando com a fumaça do cachimbo que se misturava com o gosto amargo da bebida vagabunda que se misturava com minha boca seca, olhos ardentes e mau cheiro.
Mas adormeci. Não sei quanto tempo fiquei acordado até ter conseguido dormir. Não sei quanto tempo dormi dessa vez. Talvez quinze horas. Talvez mais.
Porém, desta vez, acordei sorridente, pois havia tido a melhor de todas as ideias.
Um conto. Finalmente eu serei adorado.

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Meu nome não é Alex DeLarge, nem Tyler Durden, nem Mort Rainey. Nunca me chamaram de John Keating. Não sou Ed Bloom, nem Joel Barish. Scott Pilgrim, Carl Allen, Bruce Wayne, Rainer Wenger. Nenhum destes é meu nome. Sou apenas uma peça de um tabuleiro.