Provavelmente, todos concordam com a importância e legitimidade de termos pesquisas eleitorais, assim como com sua divulgação. Mais do que isto, é bom que várias instituições as façam para que se vigie o risco de manipulação por alguma. As pesquisas são, em termos básicos, confiáveis e trazem uma informação a mais para a sociedade.

Em contrapartida, muito mais que informação, elas são atos comunicativos e produzem efeitos importantes no comportamento das pessoas.

Temos um exemplo dramático no momento. As últimas pesquisas de intenção de voto para presidente apontam para uma tendência de estabilidade da presidente Dilma, de crescimento rápido de Marina e de queda de Aécio. A publicação das pesquisas se torna uma realidade efetiva. A candidatura de Aécio passa a estar em risco, perde intenções de voto e financiamento. Aliados já abandonam o barco (o que também informa sobre a qualidade das alianças envolvidas). A mídia já considera factual um segundo turno Dilma e Marina, de modo que as notícias e fotos já são produzidas desde esta perspectiva.

Há um nítido embaralhamento entre pesquisa e realidade, o que faz com que os resultados pontuais e as tendências apontadas se tornem profecias auto-realizadas.

Naturalmente, ninguém gosta de estar aliado a perdedores e o comportamento dos eleitores é a de se aglutinar em torno de dois nomes que polarizam as chances de vitória, o que já antecipa o segundo turno.

Tudo a favor das pesquisas e sua divulgação, mas vale a pena a reflexão sobre o poder da comunicação.

desanti Pedro de Santi
Psicanalista, doutor em psicologia clínica e mestre em filosofia. Professor e Líder da área de Comunicação e Artes da ESPM.

 

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