Quanto tempo você fica na internet? Isto é, sem que seja para trabalhar ou estudar?

Segundo o governo chinês, qualquer pessoa que fica mais de 6h navegando ou jogando sem estar no trabalho ou nos estudos é considerada como viciada em internet. Sim, viciada. Para o governo, a internet é “como heroína”.

A forma de se tratar isso, no entanto, é um tanto mais elaborada do que uma clínica de reabilitação, que normalmente opera com remédios para controlar as crises de abstinência, acompanhamento terapêutico e atividades para ocupar mente e corpo. Nos Campos de reabilitação chineses, além da medicação anti-depressiva, há as aulas “correcionais” e a pesada rotina de exercícios físicos.

Nesse documentário do New York Times, temos uma visão bastante superficial do problema: vemos alguns exercícios e marchas em roupas militares e pílulas sendo ministradas, mas apenas uma história pessoal, de um garoto drogado e levado inconsciente pelos pais para a instituição.

Em uma sociedade excessivamente opressiva, mesmo dentro de casa, muitos jovens encontram nos Cyber Cafés (as Lan Houses, como as conhecemos por aqui) uma forma de fugir de toda essa carga, mesmo que por poucas horas. O problema é que alguns acabam extrapolando e ficam lá por dias, sem voltar pra casa.

Seguindo a tendência dos regimes totalitários, o que parece ser uma questão social é enquadrada nos males psicológicos e os afetados afastados da sociedade para “recuperação” através de rotina intensa e desgaste mental (que podem ser chamados de “lavagem cerebral”, como alguns participantes a isso se referem).

Com o número de clínicas estimado em torno de 400, a prática chega a custar o equivalente a R$ 3.000, muito acima da média de renda das famílias chinesas. Os métodos rígidos, conduzidos muitas vezes por ex-militares,  por vezes chega a ser brutal: em junho desse ano a jovem Guo Lingling foi espancada até a morte por ir ao banheiro sem permissão.

Em um país tão fechado e cuja circulação de notícias é tão restrita, é de se espantar que esse caso tenha vindo a público. Isso nos faz, inclusive, se perguntar o que mais será que acontece e é prontamente encoberto?

Apesar dos métodos bastante controversos com que o país lida com os viciados em internet, algo que a sociedade americana de psicologia ainda não reconhece como doença, algumas situações aberrantes não deixam de preocupar. É o caso, por exemplo, do casal de pais que vendeu não um, mas dois de seus bebês recém nascidos para bancar o vício do pai em games online.

Claro que, novamente, aspectos sociais têm um papel significativo nesse ato absurdo: o país mantém uma lei que taxa qualquer filho de um casal além do primeiro. A lei tem passado por revisões e discussões, que podem permitir um segundo filho caso um dos pais seja filho único. Mesmo assim, a maioria das famílias urbanas alega que um segundo filho representa um gasto grande demais e preferem ficar com apenas um.

Minha barba. Minha vida.