TV & Cinema

Os precursores dos animes no Brasil

By Colunistas Newronio

March 27, 2017

As séries japonesas, os animes e os tokusatsus, foram extremamente populares aqui no Brasil (e no mundo) nas décadas de 80 e 90, com os Cavaleiros do Zodíaco, Jaspion, Ultraman e Dragon Ball sendo alguns dos mais conhecidos. E até hoje em dia existem grandes sucessos como Naruto e One Piece, mas poucas são as pessoas (em especial os mais jovens) que conhecem animes como A Princesa e o Cavaleiro, Super Dínamo e grandes heróis como National Kid. Estes eram alguns dos muitos programas que passavam na tv nas décadas de 60 e 70.

Essas produções acabaram chegando no Brasil por causa de seu baixo custo (as dublagens eram compradas dos EUA), e serviam como uma forma de preencher horários na programação infantil das emissoras.

A primeira série japonesa a ser exibida na televisão brasileira foi National Kid em 1964 e contava a história de um ser imortal vindo da galáxia de Andrômeda para proteger a Terra, vivendo como o filho de um cientista renomado em Tokyo.

O mais curioso sobre National Kid é que ela foi encomendada pela produtora de eletrodomésticos National, conhecida hoje como Panasonic, para ajudar a aumentar as vendas no Japão. O personagem usava o logo da empresa e algumas de suas armas eram similares a produtos da marca. A série foi um sucesso no Brasil, mas fracassou em seu país de origem, e acabou sendo cancelada em 1970 por causa de uma lei da ditadura que proibia a exibição de super heróis que voavam.

Outra série famosa foi A Princesa e o Cavaleiro, criada por Osamu Tezuka (Astro Boy), que era uma adaptação de um dos primeiros mangás shoujo (histórias voltadas para meninas).

O mangá contava a história da princesa Safiri, uma menina nascida no Reino da Prata onde os governantes devem ser homens e que acaba, por engano, sendo criada como um menino. Seus pais precisam manter a farsa por causa do Duque Duralumínio, e seu filho o príncipe Plástico, que são os próximos na linha de sucessão e fazem de tudo para revelar a verdadeira identidade de Safiri.

O anime foi um marco para a animação japonesa, sendo o primeiro exibido em cores. Um fato curioso é que boa parte dos roteiros originais foram perdidos, então o diretor de dublagem aqui no Brasil, Gilberto Baroli, teve que improvisar novos roteiros. Apesar de tudo isso a série foi um grande sucesso, na época se tornando referência de anime para diversos brasileiros (em especial as mulheres). A animação foi exibida no Brasil da década de 70 até o início dos anos 80 pela Record.

Era comum que o dubladores brasileiros tivessem que criar histórias sobre o material que recebiam, pois muitas vezes faltavam partes ou a dublagem americana já era improvisada.

Uma das histórias mais conhecidas é a de o Oitavo Homem, anime sobre um robô com a mente de um homem, vinda de um detetive brutalmente assassinado por gângsteres (considerado por muitos o precursor de outros ciborgues, como RoboCop). A lenda diz que a dublagem americana (a base da feita no Brasil) teria sido feita sem nenhuma tradução, com os dubladores apenas tentando criar em cima da animação. Outro fato curioso é que o personagem principal fumava “cigarros energéticos”, o que fez com que a série fosse cancelada nos EUA.

Apesar de o anime apresentar uma animação precária (mesmo para a época) e uma história que diferia bastante do mangá original, acabou se tornando um grande sucesso, sendo exibido no Brasil pela Rede Globo na década de 60.

Muitas dessas séries possuem temáticas e histórias bizarras, que fogem dos padrões encontrados hoje em dia. Por exemplo, o anime Fantomas era sobre um humanoide dourado com uma capa estilo Drácula e uma cabeça de caveira, acordado de seu sono de 10 mil anos em uma tumba perdida no continente de Atlântida por um arqueólogo, para combater o temível Dr. Morte e seus monstros.

O personagem tinha superforça, podia voar, controlar tempestades e terremotos além de viajar por outras dimensões e ser feito de um metal indestrutível. O mais curioso é que o anime foi baseado no personagem criado nos anos 30 para um Kamishibai (teatro de papel japonês) e é considerado por alguns o primeiro super-herói, antecedendo até mesmo o Super-Homem.

Apesar de serem diferentes e estarem um pouco distante da nossa realidade, essas séries marcaram e influenciaram a vida de muitas pessoas aqui no Brasil. Mesmo que suas animações e produções sejam datadas, e que tenham histórias curiosas por trás, esses programas são uma importante lembrança do passado da TV brasileira (além de serem instrumentais para outros animes e séries que amamos hoje) e nos permitem viajar para universos verdadeiramente únicos.

Para quem ficou curioso, essas e muitas outras séries são facilmente encontradas no Youtube.

Texto de Giuliano Roverato