Na última segunda-feira, dia 23/03, realizamos na ESPM um debate sobre o conceito de Impeachment. Cerca de 80 alunos compareceram e o debate foi rico e quente. Por vezes, entrou-se numa discussão “a favor ou contra” o governo, com a clareza de que um processo de impeachment não passa por aí.

Dentre muitas coisas discutidas e falas expressivas dos alunos, destaco uma. Uma das alunas se mostrou indignada com a manifestação do dia 12, contra o governo. Algumas imagens, como as de bonecos representando Lula e Dilma enforcados, pareceram-lhe francamente anti-democráticas. Na mesma fala, ela disse estar profundamente decepcionada por o PT ter feito alianças com o PMDB: se o PT foi eleito, ele não deveria governar sozinho e implantar seu projeto?

Naturalmente sem se dar conta, ela, ao mesmo tempo em que defendia a democracia, mostrava-se indisposta com ela, uma vez que aspirava por um poder único, puro, que se impusesse sem precisar negociar ou ceder.

A nossa cara e cansativa democracia ergue-se justamente contra o poder do “um”. Há discursos religiosos e românticos que aspiram pelo reencontro do “um”, uma unidade compacta, da qual participamos um dia, mas da qual fomos exilados. O mundo seria o campo da dispersão, decadência e corrupção. E, na realidade, a democracia, com seus eternos acordos, negociações e concessões, seria uma expressão inevitável da corrupção humana, em todos os sentidos. De alguma forma, este campo de tensões e imperfeições é a própria vida.

Independente da cara que cada um possa dar ao seu “um”, a experiência mostra que quando alguma força política ou social se aproxima de um poder assim, unificado e sem contraposição, instala-se a violência. Aquele que detém sozinho o poder, tende a exercê-lo de forma abusiva, intolerante e, sobretudo, tende a perseguir e aniquilar seus adversários, vistos como uma ameaça à manutenção do poder.

Aqueles que sonham com uma ditadura (qualquer que seja seu partido ou grupo social), sonham com uma ditadura “sua”, ou daqueles que comungam de seus valores. Muita gente já entrou neste barco e, quando se deu conta do resultado, já havia sido usada como massa de manobra.

Das diversas formas de falta de informação e ingenuidade que assistimos nas manifestações de qualquer uma das posições em questão, a mais perigosa é a que, cansada da vida, pactua com o mortífero poder do “um”.

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Pedro de Santi

Psicanalista, doutor em psicologia clínica e mestre em filosofia. Professor e Líder da área de Comunicação e Artes da ESPM.

   

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