Mês de maio, outono. Mundialmente aceito como o melhor mês do ano – temperaturas amenas, pouca chuva e as flores estão desabrochando. E, no meio de florestas de tules, noivas estressadas correm em busca do cerimônia perfeita.

Maio é o mês das noivas, e o Newronio foi passear na Rua São Caetano, a famosa rua das noivas, para conferir de perto como funciona esse “mercado dos sonhos”.

Quinta feira de manhã, mais ou menos na hora do almoço. A rua está mais ou menos às moscas, com os manequins sozinhos nas vitrines. Alguns caminhões encostam na calçada, e de dentro saem sacos e mais sacos bracos. “É a nova coleção que chegou hoje”, diz uma atendente parada do lado da porta da loja, à espreita de possíveis clientes.

Ah.

Uma outra funcionária, de outra loja, aborda a equipe que passava despercebida. “Noiva ou debutante?!” Noiva, diz a equipe, sob a pressão e escrutínio das moças bem vestidas que imediatamente perguntaram a data da cerimônia e se propuseram a fazer o orçamento de um possível vestido.

E foi assim que Newronio adentrou, sem volta (?), nessa pesquisa de campo.

Em uma das últimas lojas visitadas, a lojista, uma mulher simpática e bem arrumada que não desistia em tentar marcar um dia para a prova do vestido, soltou uma frase que provavelmente define a indústria inteira: “Noiva não é moda, noiva é sonho”.

Fornecer serviços para um público que não só quer ter suas necessidades e desejos atendidos mas também sonhos e expectativas é extremamente difícil e arriscado. Você só tem uma chance para acertar – e se você decepciona o consumidor é a última vez que ele vai contratar seus serviços. Difícil. Deve ser por isso que existem milhares empresas especializadas em todas as partes de um casamento: desde as forminhas dos docinhos até a flor que vai na lapela do noivo.

Uma loja, que brilhava mais do que as outras, possuía displays e mais displays de coroas e tiaras. Algumas mais simples, outras até maiores que a usada pela Duquesa de Cambridge em seu casamento real. Feitas de strass, claro, mas nem por isso mais em conta no bolso: os preços começavam em R$200.

Nessa busca pelo sonho, pela oportunidade de ser uma princesa por um dia (e não precisa nem sair com o Netinho no Domingo Legal!), a Walt Disney Company percebeu o trunfo que tinham nas mãos. Nesses últimos anos, juntamente com os pacotes de viagens de lua de mel e cerimonias realizadas no castelo da Cinderela, eles lançaram coleções de anéis de noivado e vestidos inspirados nas princesas. A Disney também fez parceria com alguns designers famosos, como Marchesa e Elie Saab, para lançar uma coleção de vestidos de festa. Mais perto da realeza, só se casar com o Príncipe Harry.

O tempo mínimo para planejar um casamento tranquilamente? Segundo as vendedoras, de nove meses à um ano. Porque aí a noiva pode provar os vestidos quantas vezes ela quiser, e fazer alterações quantas vezes quiser. Mas não são todas as lojas que cedem à todas as vontades das noivas, algumas até irão ajeitar a barra do vestido, mas não mudarão as flores do bordado milhares de vezes. Essas lojistas provavelmente são aquelas que têm que lidar com noivas chorando milhares de vezes.

E por sinal, as clientes não são chamadas de “clientes”, nem mesmo por seus próprios nomes. Elas são todas as “noivas”. “Noiva, o que você acha desse decote em V?” “Vem cá, noiva, esse véu vai combinar com aquele sapato”. A experiência de ser uma noiva começa na loja, tudo para fazer com que as mulheres saciem seus desejos e expectativas bem antes do dia do casamento.

Algumas, por sinal, marcam data na igreja antes mesmo de acharem o noivo. Só para garantir, né.

O blog até tentou conversar com algumas noivas, mas todas tinham aquele brilho animalístico nos olhos e os cabelos bagunçados de quem não dorme direito há semanas. Vai mais um dia inteiro no cabeleireiro pra consertar todo o estrago que um ano de estresse causou nas pobres Cinderelas.

E esse foi o fim do estudo do meio realizado pelo Newronio. Que venha maio e suas noivas sorrindo ao dizer “sim” para seus futuros maridos. Nos vemos em algum casamento, champagne em mãos, porque a indústria dos sonhos não deixa fácil para ninguém.

Julia. 20. Cursa comunicação social e resolve cubos mágicos. Leva personagens fictícios muito a sério.