Isolada nas montanhas da coreia, a garota Mikha passa os dias com sua melhor amiga Okja. As duas desconhecem um mundo sem a outra e, enquanto saboreiam tangerinas ao som de um riacho próximo, pensam que nenhuma outra rotina poderia ser tão perfeita quanto esta. Um dia, a visita do fenômeno televisivo Johnny Wilcox e sua equipe, que viajam o mundo em busca de peculiaridades animais, muda o rumo de suas vidas. O apresentador mostra-se excessivamente interessado por Okja e Mikha deixa a equipe e a amiga por alguns minutos para, ao retornar, perceber que os visitantes foram embora, levando sua companheira. Mais tarde, a garota descobre que Okja é parte de um experimento genético multi milionário que envolve o abate e venda de sua deliciosa carne para o mundo todo.

Ah, talvez eu tenha esquecido de mencionar. Okja é um porco. Um porco gigante.

Nesse filme de 2017, dirigido por Bong Joon-Ho, a trama gira em torno de uma garota tentando lutar contra forças da indústria pecuária para salvar sua melhor amiga. A obra discute o papel da espetacularização na sociedade, sempre mantendo o espectador entretido, ora com ação, ora com emoção.

Ao ser levada para os EUA, a porquinha é exibida na mídia para indicar o sucesso do projeto genético e, ao mesmo tempo, inaugurar a linha de carnes derivadas desses animais. O público logo se apaixona pela simpática Okja, mas, ainda assim, mostra-se ávido para experimentar sua carne. Mesmo após comover-se com o esforço de uma criança viajando centenas de quilômetros para salvar sua amiga (uma saga que acaba até na TV), o povo celebra o toucinho de superporco.

Surpreendentemente, o filme não é sobre deixar de comer carne (embora definitivamente sirva como um grande incentivo). O problema aqui não é o pequeno produtor que cria e abate o frango para obter uma renda estável, nem a família que o compra porque precisa se alimentar e essa é a opção mais barata. O filme critica, na verdade, o consumo compulsório e nossa capacidade de transformar tudo, até mesmo relações, em produto a ser vendido. O consumo da carne de Okja é uma experiência, um evento com direito a marchinha e carro alegórico. A trajetória de Mikha é acompanhada por milhares de pessoas, consumida como entretenimento, assim como o programa de Johnny Wilcox.

Embora impressionante, essa não é uma temática nova. A amizade entre uma criança e criatura, ameaçada por interesses econômico-científicos já apareceu algumas vezes no cinema em filmes como E.T., o Extraterrestre e Meu Monstro de Estimação. Ainda assim, seja pelo enredo, seja pelos grandes nomes no elenco (Tilda Swinton e Jake Gyllenhaal), Okja gera reflexões interessantes acerca da origem da comida em nosso prato.

Texto de Ana Beatriz Aquino, produzido durante a Oficina de Produção de Conteúdo para Digital do Arenas ESPM.

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