Se você me conhece ou me segue em alguma rede social, já deve saber que eu sou completamente apaixonada pela Saga Crepúsculo, tanto pelos livros, quanto pelos filmes. Reconheço que ela não fez uso dos melhores efeitos especiais e possui uma temática um pouco clichê, mas, ainda assim, a história foi muito bem aproveitada.
Passei grande parte da minha vida escondendo essa paixão por misoginia internalizada. Gostar de rosa, de romances, de glitter, de flores e de vampiros lindos e perfeitos que brilham no sol, tudo isso era visto como motivo de vergonha, pelo menos para a Luiza de 14 anos. Porém, conforme os anos passaram, meus argumentos evoluíram de “gosto porque o Jacob é gostoso” para “é um romance infantojuvenil bem escrito, que explora as dificuldades de crescer e se apaixonar e o efeito de algumas crenças na vida das pessoas”.
Essa visão em cima da saga não afetou apenas a vida das jovens fãs que tinham vergonha de usar uma camiseta com o escrito “TEAM EDWARD” para irem ao shopping, mas foi um grande impacto na carreira dos protagonistas: Kristen Stewart (Bella Swan) e Robert Pattinson (Edward Cullen). Grande parte das críticas envolvem a performance de Kristen como Bella, dizendo que ela não demonstra emoções, é superficial e não tem personalidade. E posso dizer que eu concordo com tudo isso, só discordo da parte em que isso é uma crítica.
Isabella Swan é uma jovem de 17 anos que se mudou da Flórida para Forks, em Washington, para ir morar com seu pai. Ela é tímida, desastrada, não gosta de chamar atenção e sente que não se encaixa em lugar nenhum. Isso te lembra alguma coisa? Isso mesmo, essa provavelmente foi sua personalidade durante a adolescência, ou, pelo menos, durante os anos mais esquisitos dela.
A intenção de Stephenie Meyer, autora da saga, não é desenvolver a personagem mais profunda do mundo, mas, sim, criar uma mulher simples, com problemas comuns que faça com que suas jovens leitoras (seu público-alvo) consigam se identificar e mostre que até as pessoas que se sentem esquisitas e diferentes conseguem viver um grande amor. Se toda menina que ler os livros e ver os filmes, se enxergar na Bella e sentir que consegue um amor histórico como o dela com Edward, não só elas terão mais esperança em uma idade meio difícil, quanto consumirão mais do produto para se sentirem bem.
Com isso, Kristen interpretou perfeitamente a personagem, deixando-a vaga e ampla o suficiente para que pudéssemos nos identificar o máximo possível. A atriz, inclusive, mencionou em uma entrevista para o jornal inglês The Guardian que o que a fez amar sua personagem foi como Bella confiava que em algum ponto seus sentimentos fariam sentido e que ela não deixava que a chamassem de louca por amar assim. Kristen mostrou a amplitude dos sentimentos da jovem, sem fazer com que ela ficasse sem sal; a personagem ainda tem personalidade e opiniões fortes, elas só não são compreendidas.
Bella é altruísta, algo que faz parecer que ela não tem opiniões, mas, na verdade, ela tem e luta muito por elas. Sua decisão de se tornar vampira e viver a eternidade com Edward foi tomada no momento em que ela o conheceu; ela é corajosa, decidida, e acabou conseguindo o que queria. Ela também faz enormes sacrifícios por aqueles que ama ao longo dos filmes, como aceitar morrer para salvar sua mãe, proteger os sentimentos de seu pai e colocar sua vida em risco mais de uma vez, porque Edward não aceitava transformá-la.
Apesar das críticas, dos fãs enlouquecidos e apaixonados (eu, inclusive) e da associação permanente da atriz com esse papel, Kristen conseguiu sair da pele de Bella e interpretar papéis incríveis ao longo dos anos, como em “Para Sempre Alice”, “Equals” e “Alguém avisa?”. Além de seu trabalho mais recente, que garantiu sua nomeação ao Oscar de Melhor Atriz: Spencer, o filme que conta a história da Princesa Diana.
A maioria dos atores da saga não conseguiu se desvencilhar dos papéis, como Ashley Greene (Alice), Kellan Lutz (Emmett) e Jackson Rathbone (Jasper); mas nossos protagonistas conseguiram – e conseguiram muito. Assim como Kristen, Robert Pattinson já foi parte de grandes sucessos e interpretou recentemente nosso riquinho gótico favorito: o Batman.
Sua filmografia inclui longas como Tenet, O Farol, A Origem, O Diabo de Cada Dia, O Rei e sua participação em Harry Potter como Cedrico. Apesar de todos esses filmes incríveis, ele ainda é atacado pela mídia por seu protagonismo na saga.
Quando pensamos nos motivos dessas críticas, é fácil pensar na “má qualidade” dos filmes, mas, haja visto que diversos filmes extremamente ruins são feitos todos os anos e não mancham a vida dos atores nesse nível, o ataque fica mais pessoal. Crepúsculo foi produzido em 2008 e não contava com as melhores tecnologias para efeitos especiais. A imagem dos lobos ficou impecável, ainda mais para a época, mas assim como o primeiro Harry Potter, no qual os personagens voando nas vassouras parecem bonecos, alguns elementos de CGI foram precários. Mas como mencionei anteriormente, “coisas de menina” são constantemente rebaixadas e desconsideradas, enquanto as mesmas coisas, para meninos, são enaltecidas.
Trabalhando com generalizações, o amor intenso de um homem por um time de futebol é paixão, fanatismo e é visto como algo bonito. Já quando uma mulher é muito fã de um artista, por exemplo, ela é boba, infantil e, muitas vezes, chamada de louca. Filmes feitos para um público-alvo feminino são atacados e escarnecidos, como é o caso de Crepúsculo e de inúmeros filmes de romance. Mas filmes feitos para um público masculino, como Velozes e Furiosos, que são extremamente irracionais e industrializados, são enaltecidos e aclamados.
Como o próprio Robert Pattinson disse em uma entrevista de divulgação de Batman: “Nem é mais descolado odiar Crepúsculo. Isso é tão 2010“. Então pegue seu cobertor, aproveite esse tempo nublado e vá maratonar todos os filmes que você já foi julgado por amar.