House of Cards foi a primeira produção original da Netflix. Desde 2013, a série cresceu e começou todo o status que a rede de streaming agora tem como produtora de conteúdo.

A série possui diversas inspirações, tanto no passado quanto no presente politicamente instável, na literatura e em seu predecessor inglês de mesmo nome.

As referências a Shakespeare são inúmeras. A quebra da quarta parede, também presente na versão britânica, é algo originário da peça Richard III, na qual o rei também se vangloria de suas conquistas perversas. A medida em que esse artifício é utilizado, vamos entrando cada vez mais na cabeça do protagonista, até o ponto em que torcemos por um personagem moralmente incorreto, vendo toda a ação da série do ponto de vista de Frank.

A presença do autor não para por aí. Claire e Frank, o “power couple” central em House Of Cards lembram os MacBeth, que dão o nome à peça shakespeariana. Em ambos os casais, a mulher exerce grande poder, mesmo que pouco publicamente.

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O balanço de poder do casal, que já teve sua dinâmica comparada com a dos Clintons, continua instável com o andar da série. Claire se mostra cada vez mais forte, mas Frank, que vê todos a sua volta como serviçais, faz o mesmo com ela. O final da quarta temporada é um dos poucos momentos em que vemos o casal na mesma página, e é um dos momentos em que parecem mais fortes.

As comparações a políticos reais nem sempre são sutis. Underwood muitas vezes se compara com Nixon, embora seja um democrata (o que para alguém do Sul dos Estados Unidos, não é muito comum) e, na quarta temporada, compara seu concorrente, Will Conway, com J. F. Kennedy. Conway, assim como Kennedy, é um novaiorquino jovem e carismático, que projeta a família perfeita. Em contraposição, os Underwoods optaram por não terem filhos, fator que, para o público,  realça a racionalidade deles e seu foco no sucesso pessoal.

Em raros momentos vemos emoções no casal. Toda essa racionalidade é realçada, também, pelas cores do seriado. O contraste do amarelo e azul (o quente e o frio), mostra o dilema entre esses dois espectros, e como ele permeia todas as decisões tomadas por eles.

A sátira política de House Of Cards nunca foi tão relevante. Por mais absurdo que o momento atual seja, a reflexão a respeito nunca é demais.

A quinta temporada da série pode ser vista agora na Netflix:

De grão em grão, tanto bate até que fura.