Nunca conhecemos tão bem nosso planeta. Da vastidão gélida do continente antártico ao coração verde da Floresta Amazônica, dos picos inóspitos do Himalaia às profundezas sombrias da Fossa das Marianas, não há lugar na Terra que alguém não tenha, pelo menos, fotografado.

O imaginário de um século atrás, com grandes civilizações esquecidas no meio da selva ou templos encobertos pela areia, deu lugar a uma incômoda certeza de que não há mais mistérios a serem descobertos. Tudo está na internet, todo tipo de fenômeno diferente ou história pouco usual logo tem uma verdadeira equipe de investigadores para prontamente explicá-la nos termos da ciência.

Com essa abundância de informação e comunicação, redirecionamos o nosso instinto curioso para dentro das telas e do mundo digital, um movimento irônico visto que nunca foi tão fácil se movimentar pelo mundo. Cada vez mais deixamos a experiência própria de lado, para viver a de outros.

Mas alguns não se conformaram com isso. Thomas James Abercrombie não se conformava com isso. E saiu pelo mundo para melhor conhece-lo. Como um verdadeiro explorador.

Nascido nos EUA em 1930, casou-se com sua namorada de colégio, Lynn Abercrombie, também fotógrafa. Thomas começou sua carreira como fotógrafo trabalhando para pequenos jornais e revistas da região, até que uma de suas fotos, um pássaro arrancando uma minhoca do chão, tirada de um ângulo muito baixo, chamou a atenção de Bell Grosvenor, então editor da revista National Geographic.

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Apenas um ano depois, Abercrombie já angariara respeito suficiente para se tornar um correspondente internacional da revista. Sua primeira cobertura foi no Líbano.

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Em 1957, Thomas Abercrombie foi o primeiro jornalista a cobrir o Polo Magnético Sul, bem no interior da Antártida, na companhia de outro colega de profissão, Rolla J. Crick).

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Talvez uma das viagens mais interessantes de Abercrombie tenha sido seu período ao lado da lenda Jacques Cousteau, onde participava até mesmo das longas sessões de mergulho. O fotógrafo disse que nadar com Cousteau “era como nadar com um peixe”.

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Mas a região que conquistou o coração do explorador foi o deserto do Oriente Médio e do Saara. Passou grande parte de sua vida viajando pela areias povoadas de extremistas, terroristas, bandoleiros e todo tipo de perigo.

Em suas prestações de contas, havia sempre dois rifles AK-47, descritos como “apólices de seguro”. Entenda-se: para sair de certas situações embaraçosas o fotógrafo oferecia uma das armas como “presente” ou pagamento por sua liberdade de movimento (e até mesmo sua vida).

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Durante suas viagens pela Arábia Saudita, Abercrombie se deparou com uma rocha que não tinha nada a ver com seu entorno e resolveu avisar especialistas em geologia da região. Resultado: havia acidentalmente encontrado um meteorito de 2700 kg, hoje denominado Wabas.

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Sua sensibilidade e habilidade para com a fotografia renderam a ele mais um feito pioneiro: foi o primeiro não-muçulmano a ter sua entrada permitida na maior mesquita de Meca, local onde se encontra a Caaba, a pedra negra sagrada que atrai milhares de peregrinos muçulmanos todos os anos.

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A experiência em Meca foi tão intensa para o fotógrafo que este acabou se convertendo ao Islamismo, que exerceu até o fim de sua vida.

Tendo viajado todos os sete continentes, fluente em 5 línguas e um curioso nato, Thomas Abercrombie passou os últimos anos de sua vida dando aulas de geografia na George Washington University, nos EUA.

Morreu em 2006, quando estava começando a se interessar por astronomia e o mundo para além de nossa atmosfera. Para Don Belt, amigo e também jornalista, ele estava apenas planejando sua próxima viagem.

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Minha barba. Minha vida.