Se o movimento Tropicália trouxe diversas inovações para o cenário cultural brasileiro, é por causa de Tom Zé. Todo o devido respeito a Caetano, Gil e a trupe de Arnaldo Baptista (Os Mutantes), mas a essência brasileira do tropicalismo vêm desse mestre.

A mistura do samba com o xote nordestino e da música experimental com jogo poético das palavras faz de Tom Zé um artista único na história da música brasileira. Na verdade, mais do que um artista, o baiano é um grande contador de histórias.

Seja por suas visões excêntricas da vida ou através de uma música ou um disco, Tom zé sempre tem uma história a contar. Por exemplo na capa do disco “Todos os Olhos”, um de seus trabalhos mais marcantes.

Lançado em 1973, o músico esperava fazer sucesso com o disco brincalhão e cheio de malandragem. Para ele, ali foi o começo de seu experimentalismo, e por isso a capa deveria refletir essa inovação pessoal. Um amigo publicitário, ouvindo o refrão da música “Todos os Olhos”, que diz “de vez em quando todos os olhos se voltam para mim, mas eu sou inocente, eu sou inocente”, recomendou que colocasse na capa um oríficio anal.

O jovem Tom Zé ficou assustado com a ideia, ainda mais por saber que uma banda havia sido presa por dizer “seios” no palco.Mas o seu espírito selvagem falou mais alto e a capa foi criada com a ajuda da namorada de um dos produtores.

No final desistiram da ideia e colocaram uma boca com um bola de gude dentro. É claro que ninguém acredita que é uma boca.

TodosOsOlhos

O disco foi marcado por sucessos como “Augusta, Angélica e Consolação”, “Todos os olhos” e ” A noite do meu bem “.

Desde então, Tom Zé continua inovando em seus discos.

Esse ano ele lança o disco “Geração Y”, uma crítica a “geração da internet” pela insistente alienação. O disco conta com participações da nova MPB brasileira. Nomes como Tim Bernardes (O Terno), o pessoal da Trupe Chá de Boldo (banda de Gustavo Galo), a Filarmônica de Pasárgada e Tatá Aeroplano cantam com o artista. Para quem não conhece os nomes, vale muito a pena dar uma olhada nessa galera que surgiu recentemente mas que já garante o seu espaço pela qualidade musical.

O tema é justamente um reflexo da proximidade do músico com o público jovem, como ele mesmo ressalta: “Quando vou me apresentar, 90% do público é jovem. É impressionante essa loucura. Não tenho preocupação, quero dizer, não trabalho nessa direção. Talvez seja essa rebeldia consensual que é a minha companheira e cria, com eles, algum sinal ou fio de comunicação.”

O álbum já está disponível na apple store aqui. Os shows de lançamento serão esse final de semana, nos dias 31,1 e 2 de novembro no Sesc Vila Mariana.

Abaixo o single “Geração Y”.

Se o disco fará sucesso, não é um discussão que cabe à Tom Zé. Até porque, como ele mesmo diz, quando se é famoso e respeitado, é como estar com pneumonia. A sua mãe começa a fazer tudo por você, com muitos elogios e amor, e assim a vida se torna fácil. Mas quando não se está doente, você deve se virar e receber duras críticas sem poder reclamar.

Ou seja, ele pouco se importa. Afinal, o mais libertário dos tropicalistas é um sensorial criador de conteúdo que pretende sempre seguir suas vontades, independente dos que não compreendem sua genialidade.

tomzé

vindo de outros tempos mas sempre no horário.