Há uma semana, houve um debate na ESPM sobre o aplicativo Secret. Na véspera, o aplicativo havia sido retirado da loja da Apple e já se anunciava sua retirada das lojas Android. Havia inclusive uma decisão judicial a este respeito.

O debate foi promovido pelo Coletivo Coralina (ótima iniciativa!) e tinha como foco o uso do aplicativo como disseminação de ataques: quer sob a forma de simples ofensas, quer sob a forma da postagem de fotos expondo outras pessoas a constrangimento. Em suma, sob privacidade, o que se expõe é ódio ou inveja, que é uma forma de paixão com o sinal trocado: não suportamos a felicidade presumida no outro e o atacamos.

A princípio, defendi o aplicativo. Ele parece uma forma de restituir aquilo que a nossa vida sempre conectada nos tirou: privacidade. Estamos ganhando a consciência de que a internet não é e nunca foi livre, ou seja somos constantemente monitorados e censurados pelos provedores. Como mesmo assim postamos quase tudo o que fazemos (e arquivamos as nossas fotos e textos nas nuvens), perdemos a noção de termos uma vida própria e autônoma e cada um de nós procura restituir este sentimento de alguma maneira. Muitos usuários do Secret aproveitam para desabafar ou pedir conselhos, sob a proteção do anonimato.

Mas, mais do que depressa, o policiamento se apresentou sob a forma de ofensas odiosas: surgiram os Blackblocs na rede, acreditando afirmar uma posição pessoal e política na liberação de agressividade impune. E então vem o contra-policiamento: aqueles que repudiam a expressão de ódio, sobretudo quando voltado a minorias.

Minha questão é anterior àquela relativa ao fechamento ou manutenção do site: de onde vem tanto ódio? há quem diga que isto é mais forte no Brasil. Considerando que ser brasileiro não seja uma condição genética, o que me instiga saber é que tipo de vida temos levado para que, à primeira oportunidade (anônima, é claro), tenhamos tanto ódio represado pronto para explodir.

desanti Pedro de Santi
Psicanalista, doutor em psicologia clínica e mestre em filosofia. Professor e Líder da área de Comunicação e Artes da ESPM.

 

 

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