No nível de aespa e StayC, o novo girlgroup –grupo feminino– da Starship Entertainment –empresa por trás de grandes atos como SISTAR, Boyfriend, Monsta X e Cosmic Girls– IVE vem compondo uma satisfatória singlegrafia, e After Like não poderia deixar de fazer parte dela!

Para contextualizar, o IVE debutou em dezembro de 2021 com o single “Eleven”, mini-álbum com faixa-título homônima e uma b-side –como chamamos músicas que são lançadas juntas da principal e também são promovidas– denominada “Take It”. Seu primeiro comeback foi no primeiro semestre de 2022, em abril, com “Love Dive”, também mini-álbum com faixa-título homônima e b-side chamada “Royal”. E agora, em agosto de 2022, elas fizeram seu segundo comeback com “After Like”. Novamente, o mesmo esquema de mini-álbum, faixa-título e, dessa vez, com a b-side “My Satisfaction”.

Sinceramente, o meu plano era ter escrito um artigo na época de lançamento de Love Dive porque fui completamente avassalada pelo primeiro comeback do IVE. Foi um acerto completo nos quesitos visual e musical: o MV –music video ou clipe– fez jus a todos os conceitos apresentados nos teasers –coisa que eu frequentemente sinto falta nos lançamentos, como senti sobretudo com Glitch Mode, do NCT Dream, e cheguei a sentir agora com After Like–, e a música foi uma surpresa extremamente positiva e agradável para a maioria dos seus ouvintes. Tanto que entrou em oito novos charts, contabilizando dezoito posições –em comparação com o debut, Eleven, que entrou só em dez–, e, logo com o primeiro comeback, finalmente topou na performance do mês da parada musical padrão de singles da Coreia do Sul, a Gaon Digital Chart (atualmente renomeada como Circle).

E ainda sobre as suas vitórias por popularidade, o motivo pelo qual não escrevi sobre Love Dive –e não só porque perdi o timing– foi porque, apesar da impecabilidade da música, ela foi absurdamente saturada em questão de meses. A faixa foi descrita como um dark-pop moderno e eletropop. E junto ao anti-drop do refrão e a coreografia simbolista –tanto as mãos de “narcissistic, my god, I love it”, quanto o icônico “sum chamgo Love Dive”–, é quase impossível encontrar uma pessoa atualmente na comunidade k-popper que não saiba imitar ou não reconheça essa melodia marcante. De toda forma, ela foi o momento. Não posso negar.

Na época que queria escrever sobre Love Dive, era também porque queria dizer que o IVE tinha, até então, uma das melhores singlegrafias da geração. A faixa-título somada à b-side “Take It”, do primeiro single, compunham, na minha opinião, o suprassumo musical da quarta geração de girlgroups do k-pop.

Take It é, sinceramente, a minha música favorita do IVE em todos os sentidos e, para firmar a minha tese, eu preciso passar pelas duas novas músicas: After Like e My Satisfaction. De antemão, asseguro que Eleven e Royal não têm nenhum problema. Elas prometem e cumprem exatamente o que precisam, sendo Royal, inclusive, o ápice no quesito estrutura das músicas do IVE até agora.

After Like foi outra grandíssima surpresa visual e musical. Visualmente, fomos recepcionados por dois conceitos: um com estilização e ambientalização urbanas, e maior neutralidade; enquanto o outro trouxe uma vibe mais artística e colorida, fazendo com que cada membro representasse uma cor. O clipe também usa, de uma maneira muito inteligente, a metalinguagem com a própria gravação, já que parece quase um behind the scenes –ou bastidores– do clipe, ao invés do clipe real. Musicalmente, foi o ponto alto para mim: o teaser entregou, de cara, o sample da faixa: I Will Survive de Gloria Gaynor. De verdade, devo ter ficado alguns minutos depois de assistir e ouvir o teaser pensando se era, de alguma forma, uma mensagem LGBTQIA+ porque não podia ser só coincidência o conceito ser arco-íris e a música ter um sample de tamanho marco para a comunidade. Mas resisti. Precisava saber do que se trataria o lançamento final.

Então, finalmente, After Like foi lançada e, apesar de amar no primeiro momento, foi na segunda vez ouvindo que percebi que talvez pudesse ter me surpreendido mais. O timing não colaborou. Três dias antes, o BLACKPINK lançou seu tão esperado comeback e, antes que pareça que Pink Venom de alguma maneira ofuscou ou superou o lançamento do IVE, para mim, definitivamente não foi o que ocorreu. Mas me trouxe atenção para “fórmulas” –estruturas– que andam sendo cada vez mais usadas nas músicas –e, no caso do BLACKPINK, continuam sendo sempre usadas– e eu reconheci que o IVE estava seguindo para o mesmo caminho.

Desde o debut, as músicas do grupo vêm transitando entre 2:59 e, no máximo, 3:25 de duração. Eu particularmente venho abominando o movimento de músicas curtas –feitas majoritariamente para hitar no Tiktok–, então ter novamente uma faixa título com quase menos de três minutos já me foi um sufoco. E há uma gradação, comeback após comeback, de que as músicas continuem girando cada vez mais em torno das mesmas partes –normalmente em torno do refrão ou uma melodia específica e repetitiva.

Eleven, a música de debut, teve a estrutura que eu enxergo como básica, mas essencial: tem introdução, versos que compõem bem os “miolos” da música, pré-refrões –um deles é a transição de volta da bridge–; refrão marcante, relativamente longo e cantado; dois pós-refrões coesos e melódicos; uma bridge que, apesar de curta, está presente e, por fim –e a minha parte favorita–, high note e adlibs! Take It tem a estrutura quase idêntica, com a única diferença que o pós-refrão acompanha todos os refrões, diferente de Eleven, que é só a partir do segundo; e Royal dá uma aula nesse quesito: tem introdução, bons versos que transitam entre predominantemente cantados, rap e alternâncias de canto e o que parece um quase-sussurro; além de uma bridge independente, um pós-refrão só ao fim da música e um outro! Mesmo que, sonoramente, Take It seja a minha música favorita do IVE, não posso negar e dizer que Royal não é a mais bem pensada e produzida estruturalmente. Porque ela simplesmente é!

A questão é que o grupo se supera cada vez mais em questão sonora, mas vem enxugando cada vez mais partes da música. Toda vez que ouço After Like entro em um universo alternativo no qual a única coisa que consigo pensar é que estou numa balada disco e, então, não consigo prestar atenção na estrutura da música, mas ela é completamente enxugada. Usando a mesma estratégia do StayC de transformar refrão em bridge, e a manobra própria de adicionar um rap que introduz o pré-refrão no que era para ser o pós-refrão… só de explicar, já é uma confusão completa! Soa muito bem, mas faz com que a música se torne curta e repetitiva. Eu sinceramente queria uma bridge independente e a coisa que mais senti falta –isso em Love Dive também– foi de uma high note ou um adlib para acompanhar o sample de I Will Survive que, se fosse bem feito, poderia ser um grandíssimo acerto, já que o grupo tem dois belíssimos e capazes vocais, da Liz e da Yujin!

Breve e novamente sobre Love Dive, apesar de ter sido a primeira dessa onda de músicas enxugadas, eu ainda deixei passar porque tinha sido uma boa e marcante diferenciação sonora, comparada à Eleven. Mas a minha chateação fica, então, na falta de um rap, de uma bridge propriamente dita e de um refrão final com algum diferencial que não se exprima só na coreografia –sim, eu quero vocais! Eu quero adlibs!

E sobre My Satisfaction… A faixa tem uma estrutura muito própria e esperada de b-side, o que conta como o primeiro diferencial dessa classificação até agora, porque o IVE tem entregado músicas com porte de faixa título nas b-sides, mas eu, particularmente, acho que, mesmo que possa ter sido a intenção, parece que termina inacabada. Ou dá muito gosto de quero mais e não num bom sentido. Por isso, eu mesma tomei o trabalho para as minhas mãos e fiz questão de fazer uma versão para mim na qual houvesse um último refrão –que, sinceramente? Se tivessem me pedido essa opinião e eu tivesse dado, ainda abria oportunidade para Liz cantá-lo e a Yujin, Leeseo ou Wonyoung preenchê-lo de adlibs. Sim! Eu sou obcecada por adlibs.

Mas dentro do que se propõe, a música é muito forte, tanto no instrumental quanto nas composições vocais, há ótimos contrastes de agudo e grave; e, ao mesmo tempo que a batida é sombria e misteriosa, os vocais transitam entre compor a vibe e destoar dela. Ouvindo a b-side mais uma vez, ainda sinto falta de um último refrão, mas tem um potencial absurdo de superar Take It na minha lista. Futuramente entraremos no dilema: gosto do mais diferente ou do que melhor satisfaz minhas necessidades de estruturas musicalmente? Enfim.

Um pequeno adendo para evidenciar uma outra fórmula que, nesse caso e ao meu ver, é benéfica para o grupo é o contraste entre, enquanto as letras das faixas títulos são sempre sobre como a outra pessoa faz o eu lírico se sentir e predominantemente sobre as emoções um pelo outro, as letras das b-sides são quase completamente focadas no próprio eu lírico. São, em sua maioria, composições que reforçam o próprio poder e evocam uma autoconfiança e auto estima totalmente notáveis, algo que, apesar de não ser mais impossível de se encontrar no k-pop –ainda mais com a última onda do conceito girlcrush, que comprou e revendeu a rodo a ideia de empoderamento feminino–, continua sendo importante e uma boa mensagem para as ouvintes femininas, sobretudo numa geração que tem atraído cada vez mais fãs jovens e adolescentes.

E para concluir, a realidade é que é quase como se eu jogasse todo esse artigo fora, pisasse em cima e seguisse minha vida como se nada tivesse acontecido, porque o ponto final é: mesmo com todas as minhas críticas às composições e o que eu enxergo como problemas estruturais, o IVE continua tendo uma das melhores singlegrafias da geração. Isso porque nem entrei no mérito de presença de palco, talentos e carisma, que acho que foram as primeiras rookies –novatas– dessa geração que já debutaram muito acima da média nisso.

Voltando para a música, como mencionado anteriormente, mesmo que eu sinta falta de uma coisinha ou outra enquanto ouço, nada consegue verdadeiramente me deixar desgostosa, insatisfeita ou descontente com as músicas do grupo. E por esse exato motivo que faltava uma matéria sobre o IVE para fechar meus primeiros lançamentos! Finalizo, então, dizendo que depois de gostar de todos os lançamentos do IVE há a análise e crítica, deixando o favoritismo de lado para encarar as faixas de maneira objetiva, mas não tem mesmo como fugir das emoções que as suas músicas despertam. Elas são boas. Não tem jeito.

Mas e você? Já parou para pensar desse jeito nas estruturas das músicas que você costuma ouvir ou só se deixa levar pelas emoções? E por fim…

What’s after like?