Caso 1:

No dia 30 de Outubro de 1938, na véspera do Halloween, a rádio CBS interrompeu sua programação para noticiar uma invasão alienígena próxima a Nova Iorque, que nada mais era do que uma adaptação radioteatral da obra “Guerra dos Mundos” de H.G. Wells.

O molde da transmissão já havia sido explorado pela emissora em adaptações de “Drácula”, “A volta ao mundo em 80 dias” e “A ilha do tesouro” em semanas anteriores, mas isso não impediu a grande parte das 6 milhões de pessoas que ouviram o programa de entrar em pânico.

Com músicas orquestradas (que seriam a programação habitual) sendo interrompidas por “furos de reportagem”, inúmeros atores simulando reportagens externas, especialistas, cientistas e personalidades políticas, o roteiro escrito por Orson Welles  formatou o programa para se assimilar a uma notícia real.

Orson Welles na adaptação radiofônica de "Guerra dos Mundos".

Orson Welles na adaptação radiofônica de “Guerra dos Mundos”.

Como pode ser conferido no link abaixo, no princípio da transmissão a rádio anuncia o programa como sendo uma adaptação da obra do escritor britânico. O anúncio que explicava do que se tratava o programa não foi repetido durante a transmissão – como normalmente ocorre nesse veículo -, o que foi determinante para os inúmeros casos de espectadores que entraram em choque ao ouvir o programa.

Existem boatos de linhas telefônicas sobrecarregadas, congestionamentos em estradas por pessoas fugindo da região e até relatos de suicídios por conta dos que acreditaram na transmissão.

O português Matos Maia também fez uma adaptação radiofônica 20 anos depois e que gerou um grande buzz na velha metrópole, sendo que o próprio Salazar (chefe de estado português – pra não dizer ditador – de 1932 a 1968) mandou uma ordem direta para interromper a programação. A história da versão portuguesa, contada pelo próprio Matos Maia pode ser conferida aqui.

Caso 2:

A mulher que foi espancada até a morte por causa de um boato em redes sociais de que utilizava crianças em rituais de magia negra.

mulher-inocente

Caso 3:

O documentário O Mercado de Notícias , do cineasta Jorge Furtado (mesmo diretor de Ilha das Flores), aborda as relações da mídia jornalística com a verdade e com os respectivos feedbacks do público, ou seja, os consumidores de notícias.

Com renomados jornalistas sendo entrevistados e se utilizando de paralelos com a peça homônima de Ben Johnson (curiosidade: este sendo o segundo maior dramaturgo inglês, o que é de um peso impressionante sendo que o maior era ninguém menos que William Shakespeare), o documentário procura buscar e investigar o comprometimento e as abordagens dos jornalistas com as notícias e sua relação com a velocidade das informações nessa era cada vez mais digitalizada.

Em especial, um episódio citado no documentário me chamou a atenção: Uma matéria publicada em março de 2004 na Folha de São Paulo mostrava que um suposto quadro de Pablo Picasso se encontrava no prédio do INSS. “A mulher de branco” presente ali se tratava de uma reprodução que havia sido utilizada como pagamento de uma dívida alguns anos antes.

"Woman in white"- Pablo Picasso

“Woman in white”- Pablo Picasso

Problema 1: Tivemos um jornalista que não se deu ao trabalho de pesquisar que a obra original se encontrava no Metropolitan, em Nova Iorque.

Problema 2: Algum funcionário aceitou uma reprodução de alguns dólares para quitar uma dívida de, digamos, alguns milhares de reais.

Problema 3 (Bônus): No ano seguinte, a Folha noticiou que o prédio do INSS havia pegado fogo, mas que algum aventureiro se arriscou para salvar o “quadro original” de Picasso.

O caso gerou inúmeras respostas dos leitores para o jornal, mas a Folha não se retratou, nem noticiou o fato real de que a imagem se tratava de uma mera reprodução.

Conclusão(?):

Esses 3 casos são uma prova do poder que os meios de comunicação tem sobre sua audiência e sobre a população em geral, além de nos alertar sobre o quão confiáveis são as informações que chegam até nós por qualquer meio, seja o rádio (principal meio da época da adaptação de Orson Welles), as redes sociais e até jornais renomados como no caso da Folha de São Paulo.

Devemos ter sempre em mente que hoje, com a era digital, podemos checar infinitas fontes de informação e não ficarmos escravos de nenhum meio específico. Isso gera uma infinidade de opiniões e, de certa maneira, neutraliza opostos extremos na construção de notícias, tornando mais fácil de nós como consumidores dessas matérias, encontrarmos informações mais coerentes com os acontecimentos reais.

 

Sai sempre de casa com uma palheta, uma câmera e um livro.