Fotografia

O olhar de Sally Mann

By Vitor Guima

October 20, 2014

Filha de Robert S. Munger e Elizabeth Evans, a fotógrafa estadunidense Sally Mann nasceu em 1º de Maio de 1951 em Lexington, Virginia.

Sally em retrato de Michael C. Johnston (1988)

Sally se formou na Putney School em 1969 e em 1974 conseguiu um B.A. (Bacharelado em Artes) summa cum laude pela Hollins College (hoje Hollins University) tendo se tornado Master of Arts em escrita criativa no ano seguinte pela mesma instituição.

Ela começou a fotografar enquanto frequentava a Putney School e, pelo que diz, só se inscreveu nessa matéria para poder ficar sozinha com seu namorado na sala de revelação.

Foto da série “Immediate Family”

Depois de se formar, Sally trabalhou por um tempo na Washington and Lee University tendo, em meados da década de 70, fotografado a construção do prédio da escola de Direito da instituição, a The Lewis Hall. Essa série integrou seu primeiro livro, “Second Sight” (1984), e foi responsável por sua primeira exposição solo na Corcoran Gallery of Art, em Washington, no final de 1977.

Em 1969, Sally conheceu seu futuro marido, Larry Mann, melhor amigo de C. Turner, seu namorado na época. Ela conta que uma enchente naquele ano acabou levando uma grande pedra para a soleira de uma das cabanas da fazenda de sua família e seu pai pediu ajuda para movê-la. Turner disse que conhecia alguém que podia ajudá-lo e levou Larry até lá. Enquanto o pai de Sally e C. sofriam tentando mover a pedra Larry disse para deixarem o trabalho com ele e, com facilidade, levou a pedra nas costas até longe da cabana. Segundo C., naquele momento ele soube que Sally se casaria com seu amigo.

Sally e Larry Mann

Sally e Larry tem três filhos: Emmett, Jessie e Virginia. As crianças, durante a década de 80, figuram em sua controversa série “Immediate Family”, publicada em 1992.

Hoje, os trabalhos da fotógrafa integram as coleções permanentes de museus como o Metropolitan Museum of Art, o Museum of Fine Arts em Boston, o San Francisco Museum of Modern Art entre inúmeros outros. Sally também foi nomeada pela revista Time a melhor fotógrafa estadunidense, em 2001, além de ter dois documentários feitos sobre sua vida e obra: o curta-metragem Blood Ties e o longa What Remains, ambos dirigidos por Steven Cantor (o curta-metragem foi dirigido em parceria com Peter Spirer) e ambos recomendados fortemente por este que vos escreve.

Capa do documentário What Remains: The Life and Work of Sally Mann (o trailer pode ser conferido aqui)

Uma característica importante da obra de Sally é seu método de composição. Utilizando apenas câmeras analógicas de grande formato para realizar suas imagens, suas fotografias apresentam uma ambiência e um clima único.

Segundo ela, por causa desse método, alguns erros e borrões acabam interferindo em suas composições. Ela os chama de “acaso” e afirma que o acaso sempre foi e sempre será bem-vindo em seu trabalho.

Sally e uma de suas câmeras de grande formato

Abaixo, algumas de suas séries mais importantes:

At Twelve: Portraits of Young Women (1988)

A segunda série de Sally busca capturar a essência de desenvolvimento das meninas/mulheres mostrando as confusas sensações e sentimentos dessa fase da vida, o que gerou certa controvérsia na época em que foi lançada. No prefácio desse livro, a escritora Ann Beattie diz o seguinte: “Quando uma garota tem 12 anos, ela normalmente quer – ou diz que quer – menos envolvimento com os adultos. É uma época em que elas clamam por liberdade enquanto os adultos sentem que estão perdendo as rédeas da situação enquanto percebem que é hora de deixar seus filhos seguirem seu caminho”.

 

Immediate Family (1992)

Provavelmente sua obra mais famosa, a série consiste em 65 fotos em preto e branco de seus 3 filhos (todos com menos de 10 anos na época). Algumas das composições presentes nessa obra exploram temas comuns na infância como jogos de tabuleiro, cochilos e o “skinny dipping”, mas outras tratam de temas obscuros como insegurança, solidão, sexualidade e até a morte. Essa série foi bastante controversa, sendo que vários meios de comunicação estadunidenses e ao redor do mundo acusaram Sally de ter retratado apenas pornografia infantil, sem entender a real beleza, pureza e simplicidade de seu trabalho.

  

 

Body Farm (2003)

Essa série é a segunda parte do seu livro entitulado What Remains, em que foi feita uma sequência de fotografias em uma unidade de estudo de antropologia forense. Nela, Sally busca captar a essência dos corpos em decomposição e, como ela mesma diz, dessa armadura em que os espíritos habitam.

Proud Flesh (2009)

Essa série compõe o sétimo livro de Sally e foi criada a partir de um estudo de seis anos sobre os efeitos da distrofia muscular em seu marido Larry.

Outras séries e fotografias podem ser conferidas em seu site oficial.