O grande Selton Mello pode ser reconhecidíssimo por seu trabalho de Lisbela e o Prisioneiro, o Auto da Compadecida e muitas novelas na telinha. Embora tenha uma carreira que ficou bastante conhecida pela comédia, o novo trabalho do ator e diretor evidencia que Selton Mello possui talento e muita sensibilidade na lente.
Selton Mello nos bastidores do filme
Mesmo que tenha um tempo até que considerável em cena como coadjuvante e um personagem importante na vida do protagonista, é na câmera que o ator mostra sua compaixão e comprometimento com essa história delicada. No filme que se passa na Serra Gaúcha conhecemos Toni, interpretado por Jonny Massaro, um jovem franco brasileiro, professor escolar que é bastante tímido e até imaturo demais. Porém, toda a sua personalidade é justificada pela ausência de um dos seus melhores amigos, seu pai, o francês Nicolas.
A relação dos dois é bastante intensa e mostrada na tela através de flashbacks com uma câmera leve e solta para nos dar uma sensação de proximidade. Os dois tinham uma paixão em comum que era a moto de Nico que eles lustravam, consertavam e andavam juntos.
Cena de Vincent Cassel com o pequeno Toni, Gabriel Reginato
Porém a vida de Toni muda por completo quando seu pai decide pegar as malas dar tchau ao Brasil e zarpar para a França alegando estar com saudades da sua terra natal. Desde então a vida do jovem parece se tornar um vagão vazio, com um caminho a seguir, mas sem um maquinista de verdade. Não que a relação com a sua mãe fosse ruim, muito pelo contrário, a atriz Ondina Castilho, se mostra como uma mãe acolhedora e preocupada o tempo todo com seu filho. Porém, a relação entre pai e filho era tão intensa que nada parecia alegrar o menino Toni.
Nessa pacata cidade de Remanso, Toni passa o dia na monotonia de dar aula de francês para crianças de 14 anos na escola da cidade, algo que seu pai sempre sonhou, e passar a tarde com sua melhor amiga Luna, Bruna Linzmayer, uma menina tão sensível quanto ele que gosta de fotografar tudo que vê ao seu redor.
Johnny Massaro em cena
A fotografia do filme ajuda a complementar essa história dramática e poética de um jovem que ainda não se tornou adulto de fato. Ele por sua vez, ainda vai de bicicleta ao trabalho quando poderia pegar a moto que seu pai deixou, mas ele ainda está incompleto e sonha a volta de seu pai para ajudá-lo nessa jornada chamada vida. O terreno da Serra Gaúcha corrobora para essa analogia entre o delicado e o bruto, o novo e o fim e tudo se evidência através da iluminação, dos detalhes vistos das janelas e as sombras projetadas e na relação do ser humano com os animais daquele espaço. E dessa forma, tudo que está em cena e ao redor é um signo que ajuda o telespectador a compreender essa história.
Bia Arantes e Bruna Linzmayer em cena do filme. Maior parte do filme foi filmada à luz natural
A intensidade dos conflitos do jovem são muitas vezes cortadas e apaziguadas pelo personagem de Selton Mello, Paco, o melhor amigo de Nicolas. Ele quer fazer de tudo para Toni seguir sua vida, crescer e esquecer esse abandono “Toca teus caminho, guri!” ele repete com um olhar e voz de quem já perdeu às esperanças.
O novo trabalho de Selton como diretor mostra uma jornada que ocorre com todos os seres humanos, mas é na delicadeza e nos detalhes que ela se torna sensível e emocionante assim como uma poesia.
Cena dos bastidores com Selton Mello, o diretor de fotografia Walter Carvalho e Rolando Boldrin
Ao final, o filme pode até não se tornar o tão amado filme da Sua vida, mas com certeza marcará uma linda fase do cinema autoral brasileiro.
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