Observar uma imagem ou mesmo ver uma fotografia é estar, quase sempre, diante de um enigma visual. Uma imagem fotográfica também nos convida ao diálogo: o fotógrafo pedindo a cumplicidade do espectador no desvendar de um enigma. Linguagem dialógica, por sua vez, é linguagem concentrada, jogo que joga com o significado lacônico colocando-o em crise, portanto, pede uma percepção mais aguçada… desafio de leitura e de percepção… uma educação pelo olhar.

Um bom fotógrafo acaba sendo um “bricoleur”, lembrando que o verbo “bricoler”, no seu sentido arcaico, se aplica ao jogo.  Fotografias podem ser lidas como o jogo do intelecto embalado por formas, volumes, cores, texturas ou, mais intelectualmente, “cristalizações do jogo universal da analogia, objetos diáfanos que, ao reproduzirem o mecanismo rotativo da analogia, geram novas analogias. Neles, o mundo joga para o mundo, que é o jogo das semelhanças engendradas pelas diferenças e o jogo das semelhanças contraditórias”, como sugere o poeta Octavio Paz.

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Autora: Anne Turyn

O bricoleur se caracteriza pela instrumentalidade, no que se refere à forma de manipular os pedaços de seu universo material com vista a um determinado fim. A obra do artista amazonense Rodrigo Braga vem carregada de sua imersão nas paisagens que habitam sua existência: trabalha a fotografia como registro de uma cartografia da própria natureza.

As fotografias criadas por Rodrigo Braga são imagens ficcionais; elas partem de uma tensão relacional entre o olhar que capta os signos na natureza e a instigante possibilidade de reverter, por analogia ou similaridade, este mesmo signo em um outro signo. Aqui se instaura o jogo com o espectador: Uma folha de árvore pode virar um peixe; um peixe pode se transformar em uma folha. Uma árvore pode ter suas folhas feitas de penas azuis e seu tronco feito de pedras… tudo depende do olhar que resignificará estes “objetos”. Parece que Braga constrói uma (re)educação do olhar. Suas inquietantes imagens podem ser apreciadas na exposição “Agricultura da Imagem”, em cartaz no SESC-Belenzinho até dia 30 de novembro.

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Daniel Rangel, curador da exposição, esclarece que diferente do “fotógrafo caçador” que captura o instante que vê, temos o “fotógrafo agricultor” que é aquele que constrói suas imagens a partir de ideias concebidas previamente. Desta diferença nasce o título da exposição: “Agricultura da Imagem é uma mostra composta por obras semeadas pelo artista. Um plantio visual carregado de signos e de elementos díspares colhidos na natureza.”

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Para quem desejar mergulhar mais fundo no universo da criação das imagens, indico o livro “A Natureza das Fotografias” de Stephen Shore, recém publicado pela editora CosacNaify, cuja proposta circunscreve com inteligência alguns princípios do estudo das imagens e, ao mesmo tempo, provoca indagações interessantes: Como uma parcela do mundo visível se transforma numa fotografia? Quais atributos são comuns a qualquer imagem resultante do ato de fotografar?  O que caracteriza e diferencia uma fotografia artística de uma fotografia utilitária, como a fotojornalística, a documental e a publicitária?

“A Natureza das Fotografias” constitui uma introdução fundamental para todos aqueles que possuem interesse por decifrar a construção criativa da imagem fotográfica e seus sedutores enigmas.

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Frederick Sommer

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João Carlos Gonçalves (Joca)

Doutor em Linguagem e Educação pela USP; Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Professor de Fundamentos da Comunicação e Semiótica Aplicada na ESPM.

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