Uma trajetória, na maioria das vezes, começa com uma motivação/vontade de chegar em algum lugar, toda jornada é assim. Mas, e se no meio do caminho tudo mudasse por completo ou fôssemos distraídos por algo mais atraente ou completamente diferente? De fato, a própria humanidade acaba se modificando ao longo do caminho que ela segue e o filme de Terrence Malick, O Cavaleiro de Copas, fala exatamente sobre isso, estar perdido.

Na maioria das vezes que menciono esse filme, a primeira resposta é uma certa aversão, porque ele nunca foi aclamado pela crítica ou possuí uma nota positiva em sites como Metacritic, Imdb e etc. Mas, talvez a própria confusão presente no filme e narrativa sejam a maior demonstração da mensagem que está por trás de tudo que envolve a obra do diretor.

A história principal é muito simples, mas os elementos adicionados por Malick tanto esteticamente quanto verbalmente tornam o filme em si bem mais profundo. Rick, interpretado por Christian Bale, é um roteirista famoso de Hollywood que está em uma fase complicada em sua vida e para fugir disso ele mergulha em festas, drogas e sexo.

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O filme que pode soar como uma crítica ao próprio modo de vida que a fama Hollywoodiana proporciona vai além do que imaginámos que existe nesse nicho do cinema. Mas, nos mostra como qualquer ser humano pode se perder nos materialismos que criamos e vivemos.

Cavaleiro de Copas é o nome de uma das cartas do baralho de Tarot. Ela por sua vez, simboliza uma pessoa, inteligente, artística e sonhadora, mas que vive constantemente entediada e a procura de estímulos. Esse viajante a procura de seus sonhos pode ser facilmente enganado ou desencorajado e é assim que acontece com Rick que, em sua busca por um sentido na vida e uma necessidade de viver de fato, acaba encontrando nos prazeres carnais uma certa fuga, mas seria ela de fato a melhor forma de se sentir vivo?

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O estilo de filmagem de Malick é solto e leve, desde seus filmes como Novo Mundo e Árvore da Vida podíamos perceber que o diretor conduz a câmera nas próprias mãos e isso acaba dando um sentido mais documental ao filme que também possui um ar contemplativo. Com Lubezki na direção de fotografia, as grandes cenas de paisagens e natureza acabam se tornando um novo momento de absorção/admiração, e tudo é muito fragmentado, de cenas à falas, o filme se mistura com as próprias memórias e lembranças de Rick por toda a sua vida e prazeres.

O filme em si é uma jornada pessoal de descoberta para Rick, há inúmeras cenas de estradas da California filmadas que ajudam a captar essa noção. Em um certo ponto do filme perguntam para Rick se ele se sente sozinho e a resposta é: apenas ao redor das pessoas. Se rodear por pessoas e festas foi uma maneira que ele encontrou para fugir dos anseios e problemas que tanto perturbaram e modificaram a sua vida, mas chega ao ponto de não se encontrar mais.

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Porém, uma das grandes formas que o ser humano possui de apoio é o afeto, o amor. Rick não o encontra e ao longo do filme sua história também pode ser contada não somente pelas festas que esteve, mas pelas mulheres com quem se relacionou. Todos as personalidades e estilos de vida diferentes, entrando por sua porta como alguém que espera uma resposta através do amor, mas nunca a encontra.

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Entre tudo que acontece na vida dele, as imagens vão se mesclando com todo os tipos de paisagens, personagens aparecem fora de contextos e cortes abruptos nos deixam cada vez mais confusos nessa narrativa não linear, mas isso de fato é a grande mensagem por trás de o Cavaleiro de Copas. Ao final, percebemos que assim como Rick, podemos nos sentir perdidos e confusos nesse eterno dilema chamado vida.

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Com o pé na estrada e a cabeça na lua.