Há filmes e livros que sempre exploraram essa noção de escapismo de nossa sociedade. Kerouac e todo o movimento Beat, Wild de Jean-Marc Vallée e até o filme de Sean Penn Into The Wild nos mostraram muito bem essa noção de largar os pertences e fugir do nosso terrível mundo que nos oprime através do trabalho.
Porém, o filme Capitão Fantástico, que parece se enquadrar nesse molde de filme indie, não é somente sobre uma família que vive de uma maneira completamente diferente, mas sobre como muitas vezes devemos parar para ouvir e respeitar ao próximo.
A premissa do filme é bem simples e envolve realizar um último desejo do jeito certo. Mas, é a trajetória dessa família que realmente está em jogo no segundo longa de Matt Ross. Essa quebra abrupta entre uma vida completamente afastada e aquilo que conhecemos como sociedade pós-moderna que nos ajuda a compreender essa mensagem tão forte que está por trás do Capitão Fantástico e a sua “tropa” familiar.
Em inúmeros momentos ao longo do filme todos os métodos e atitudes tomadas por Ben (Viggo Mortensen) são atacadas e colocadas à prova e isso que acaba por definir o momento que o mundo hoje está preso. Pois, de um modo geral, tudo e todos aqueles que estão em desacordo com os seus ideais irão te contestar até o último momento sem sequer ouvir de fato o que ele tem para falar ou mostrar. Há um grande embate com seu cunhado em uma cena sobre o sistema de ensino e até mesmo seus próprios filhos acabam por o desafiar, mas ele sempre encontra no diálogo a melhor forma de contra-argumentação.
Os pequenos detalhes do filme sobressaem aos nossos olhos e conseguem trazer uma aproximação muito mais intimista para a narrativa. Isso, por sua vez nos conecta de uma forma mais humana com essa família nada convencional e que foi criada cheia de controvérsias (aos olhos de muita gente).
Sem querer contar muitos spoilers, mas já contando neste pequeno fragmento, pois está entre uma das cenas que mais me tocou no filme e ela tem muito a dizer sobre nossa relação com o filme.
Uma de suas filhas está lendo Lolita, um livro muito polêmico e controverso, e Ben pergunta o que ela está achando.
Ao explicar a narrativa e falar sobre a personagem, ela nos conta que sente uma mistura de empatia e pena, pois aquilo que ele está fazendo é errado, mas ao mesmo tempo você se conecta com o narrador. Enquanto, para muitos isso pode ser apenas uma das muitas conversas entre Ben e seus filhos, essa citação entra como uma própria metalinguagem e diálogo com o telespectador que por sua vez pode odiar e amar esse pai nada padronizado.
Entre os sorrisos sinceros das crianças, o olhar de orgulho de Ben e um carinho que transcende a tela, Capitão Fantástico é um filme que surge como um manual e um convite para aquilo que muitos de nós esquecemos na hora de nos comunicar, ouvir.
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