Calma, não se assuste com tal constatação. Para chegar no título, é preciso passar ainda por uma linha do tempo da música, pelo menos a partir das décadas de 50 e 60 (onde os Beatles eram o Beatles da época deles).

beatles

Quando o quarteto de Liverpool fazia sucesso no mundo inteiro, com seus rostos estampando as capas de revistas de fofoca, shows ensurdecedores e discos vendidos em milhares, a música ocidental (e um pouco da oriental) rodava em torno deles e de quem mais fazia um som parecido.

As coisas começaram a mudar – ou a embrionar uma mudança – a partir da final da década de 60 e início da década de 70. A modernização dos estúdios e o lançamento de novos equipamentos, bem utilizada na segunda fase da banda de John e Paul, fez com que os artistas e as bandas se reinventassem.

Começaram a surgir nichos de gêneros diferentes. Os anos 70 viram o auge e o declínio do Rock psicodélico (e aqui no Brasil a Tropicália), a consolidação do Funk e Soul nos EUA, o crescimento do movimento Punk junto com o movimento anarquista e o surgimento (nos guetos de Nova Iorque) do que viria a ser chamado mais tarde de Rap.

Os anos 80 trouxeram os sintetizadores e a música eletrônica e nunca antes havia tantas vendas em torno da música: eram produzidos e consumidos shows, discos e videoclipes de forma exagerada com o intuito de vender e estar presente na mídia (o que também é vender).

Mesmo nos anos 90 e em todos esses anos que passaram por essa breve retrospectiva da música, era possível apontar quais artistas eram referências mundiais. Beatles, Michael Jackson, Madonna e Nirvana puxavam multidões para assistirem seus shows, vendiam milhares de cópias de discos, eram sintonizados em todas rádios e passavam seus clipes todos os dias na MTV. As comparações com os garotos de Liverpool não cessaram, os títulos de rei e rainha do pop também não.

Por que os dias de hoje não possuem um Beatles ou um Michael Jackson ou uma Madonna? A resposta está em meados de 1999 com os visionários Sean Parker e Shaw Fanning. Esses dois foram os fundadores da empresa Napster, que é hoje colocada como revolução que tornou a música livre mundialmente.

Antes deles, a música estava concentrada nos CDs (que já tinha matado os discos de vinil há um tempo) e além da rádio e de performances ao vivo, era a única forma de se ouvir música, e por isso custava caro.

O Napster, no entanto, mudou o jogo para sempre. Sean e Shawn conseguiriam criar uma plataforma na internet a qual os usuários eram capazes de baixar os arquivos em MP3 de uma quantidade inimaginável de músicas. Era mais fácil, prático e barato ouvir música. Também era ilegal.

A empresa se viu lotada de processos de vários artistas – protagonizados pela banda Metallica – e gravadoras que se sentiram ameaçadas pela forma fácil de se ouvir música gratuitamente.

Como eles foram um dos primeiros a entrar nesse ramo, obviamente não conseguiram sobreviver por muito tempo, mas o legado que a empresa deixou no setor mudou a concepção de música para sempre. Não somente pela forma de se escutar a música, mas também para a forma em que a música virou um mercado segmentado.

Avançando para os dias de hoje, as plataformas online de música que víamos no início da década passada – Napster, Myspace e até mesmo o próprio Itunes – tornaram se os serviços de streaming de hoje em dia – Spotify, Deezer, Apple Music, Tidal.

Mas o que isso mudou tanto assim no jogo? Por que não há mais o artista que fala com todos da mesma forma, como eram os Beatles e o Michael Jackson anteriormente citados. Tais plataformas online, e outros mecanismos também, como o Ipod Shuffle, permitiram uma democratização intensa da música. Os mil gêneros que surgiram desde a década de 60 puderam de vez viver intensificada na mente dos fãs.

Não é mais necessário ouvir o que não gosta. Beyoncé, por exemplo, é tão conhecida como os Beatles – por questão de popularidade – mas a proporção das pessoas que simplesmente não ouve Beyoncé hoje em dia por opção é mil vezes maior que a mesma proporção dos Beatles. Podemos, hoje, filtrar em serviços de streaming, gêneros como Kpop, Vaporwave e Shoegaze e pode ter certeza que esses gêneros terão uma fan base gigantesca e nunca ninguém ouviu essas músicas em rádios mainstream.

Texto de Luiz Felipe Barbosa 

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