Comportamento

Nós e eles. De novo

By Colunistas Newronio

June 12, 2015

Uma série de episódios tem reaquecido aquele ambiente violento de “nós contra eles” que vivemos no final do ano passado, em torno das eleições.

Se lá os personagens eram o PT e o PSDB (ou o anti-PT), agora parece se travar um debate que polariza a afirmação dos direitos LGBT e certo discurso evangélico. Como toda polarização, ela é ganha aspectos ruidosos, mas empobrece a realidade, que sempre é irredutível a ela.

Não são apenas os integrantes da comunidade LGBT que defendem os direitos à diversidade de identidades sexuais ou de modelos familiares, naturalmente. A causa representa hoje uma fronteira democrática e de marca pela tolerância. Quando me refiro a “certo discurso evangélico”, refiro-me ao fato de que não é todo religioso (e mesmo, todo evangélico) que considera que os direitos de diversidade de gênero e configuração familiar seja um ataque aos seus próprios valores.

Recentemente, o beijo das idosas na novela, a campanha de O Boticário e a imagem poderosa da transsexual que reproduziu a imagem de cristo na cruz durante a parada gay, reacenderam o debate. Para coroar o confronto, no dia 10/06 parlamentares se manifestaram contra a Parada Gay ao longo de uma sessão em no Congresso Nacional, encerrada com uma prece.

Volto a um ponto sobre a violência em torno das eleições. Nossa sociedade vive conflitos, muitas vezes camuflados. Não é ruim que eles sejam explicitados, junto com a visibilidade de nossa violência. Podemos sempre tentar negar o confronto, o que faz com que pareçamos sempre legais e, a princípio, não percamos amigos. Mas a sujeira sob o tapete vai se acumular até lá já não caber. É ao encarar o conflito que ele pode se mover.

Note-se também que não há simples sobreposição entre o conflito do ano passado e o atual: não há identidade absoluta entre o que se queira chamar de conservadores/progressitas nos dois episódios.

Por outro lado, a redução das diferenças a conflitos simples e irredutíveis também não nos ajudam a pensar e avançar na construção de melhores condições de vida e convivência.

Para despotencializar este registro, é preciso que alguém não embarque reagindo violentamente ao que considera ser provocativo vindo do outro lado, e criar nuanças. Como aquela criada por um grupo evangélico que levou, durante a Parada Gay, o emblema: “Jesus cura a homofobia”.

É nesta implicação de um polo no outro que se revela a verdadeira complexidade das coisas, sem a desqualificação simples da religiosidade e da identidade de gênero.

Pedro de Santi

Psicanalista, doutor em psicologia clínica e mestre em filosofia. Professor e Líder da área de Comunicação e Artes da ESPM.