Uma série de episódios tem reaquecido aquele ambiente violento de “nós contra eles” que vivemos no final do ano passado, em torno das eleições.

Se lá os personagens eram o PT e o PSDB (ou o anti-PT), agora parece se travar um debate que polariza a afirmação dos direitos LGBT e certo discurso evangélico. Como toda polarização, ela é ganha aspectos ruidosos, mas empobrece a realidade, que sempre é irredutível a ela.

Não são apenas os integrantes da comunidade LGBT que defendem os direitos à diversidade de identidades sexuais ou de modelos familiares, naturalmente. A causa representa hoje uma fronteira democrática e de marca pela tolerância. Quando me refiro a “certo discurso evangélico”, refiro-me ao fato de que não é todo religioso (e mesmo, todo evangélico) que considera que os direitos de diversidade de gênero e configuração familiar seja um ataque aos seus próprios valores.

Recentemente, o beijo das idosas na novela, a campanha de O Boticário e a imagem poderosa da transsexual que reproduziu a imagem de cristo na cruz durante a parada gay, reacenderam o debate. Para coroar o confronto, no dia 10/06 parlamentares se manifestaram contra a Parada Gay ao longo de uma sessão em no Congresso Nacional, encerrada com uma prece.

Volto a um ponto sobre a violência em torno das eleições. Nossa sociedade vive conflitos, muitas vezes camuflados. Não é ruim que eles sejam explicitados, junto com a visibilidade de nossa violência. Podemos sempre tentar negar o confronto, o que faz com que pareçamos sempre legais e, a princípio, não percamos amigos. Mas a sujeira sob o tapete vai se acumular até lá já não caber. É ao encarar o conflito que ele pode se mover.

Note-se também que não há simples sobreposição entre o conflito do ano passado e o atual: não há identidade absoluta entre o que se queira chamar de conservadores/progressitas nos dois episódios.

Por outro lado, a redução das diferenças a conflitos simples e irredutíveis também não nos ajudam a pensar e avançar na construção de melhores condições de vida e convivência.

Para despotencializar este registro, é preciso que alguém não embarque reagindo violentamente ao que considera ser provocativo vindo do outro lado, e criar nuanças. Como aquela criada por um grupo evangélico que levou, durante a Parada Gay, o emblema: “Jesus cura a homofobia”.

É nesta implicação de um polo no outro que se revela a verdadeira complexidade das coisas, sem a desqualificação simples da religiosidade e da identidade de gênero.

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Pedro de Santi

Psicanalista, doutor em psicologia clínica e mestre em filosofia. Professor e Líder da área de Comunicação e Artes da ESPM.

   

 

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