Por David Carrião

The Sandman, uma série que tentou enxugar tanto sua história para ser facilmente encaixada para um público geral, que sua significância desaparece.

            A série de The Sandman concebida em 2022 pela Netflix, foi uma das poucas autorizações para que a obra fosse adaptada para outra mídia fora das HQs. Mas que mesmo tendo a aprovação do autor e ter um budget de alto nível, acabou tomando um rumo de mediocridade. Com um planejamento de ser mais uma série que cai no conformismo padrão da Netflix, que trás suas fórmulas em séries do seu catálogo.

            The Sandman acaba sendo uma obra que nada se arrisca, tentando ter uma forma de trazer cenas icônicas presentes nos quadrinhos para dentro das telas. Porém, ao tentar simplificar conceitos presentes na obra original, estas acabam tanto perdendo sua potência em relação a sua escrita, quanto o seu impacto, fazendo paralelismos da HQ com a série, que não se encaixa com a mídia escolhida, por tornar uma narrativa alterada. 

            Os defeitos não se fazem pela forma com que foi escolhido ser adaptado, mas, sim, a forma com que a produção escolhe sua estética e falha na execução da obra como uma adaptação. Quando foge da fotografia que é usada nos quadrinhos, ela se mostra totalmente comum, em que você veria em qualquer série presente no catálogo, parecendo não ter uma própria identidade visual. Havendo uma estética completamente genérica, usando tanto de uma palheta de cores comum, quanto uma diegese presente em qualquer obra do streaming.

            Esta narração acaba sendo prejudicial para a semântica do que a obra quer dizer, semelhante a representação de cada personagem. Como as próprias entidades presentes na série, em que os eternos são feitos para representarem conceitos incompreensíveis, misteriosos e imprevisíveis. Eles tomam um rumo negativo, de humanização para tentar trazer uma identificação com o espectador, tanto em seu visual, tornando-o completamente humano em sua forma padrão, quanto em seu comportamento que acaba sendo apaziguado. Como quando o Alex ao receber o Eterno Despertar, porém acaba sendo amenizado, assim como os elementos de “save the cat” para trazer mais simpatia ao personagem, e até enquadramentos sugestivos com a Joahna Constantine com o sentido de tensão sexual.

            Tanto essa estratégia de deixar a produção mais pé no chão, acaba afetando a visão que nós temos sobre as entidades, como o conceito abstrato que a figura dos Endless toma para cada indivíduo e ser existente no universo, assim como a falta de coesão do que o Sonhar é, parecendo mais um ambiente high fantasy, do que o aspecto de constante impermanência, tendo um pequeno vislumbre do que poderia ser no início do primeiro episódio. Onde o estado onírico fica apenas na palavra, e não reflete no seu estado imagético.

            Mas nem tudo se faz de caos, havendo aspectos positivos na obra, como a forma com que é contada a estória do arco “A Casa de Bonecas”, em que saímos da perspectiva de protagonismo do Morpheus, e entramos na visão do mundo a sua volta e os personagens envolvidos. Fazendo com que tomemos mais compaixão com a mensagem sobre o egocentrismo humano dentro da obra.

            Portanto, The Sandman se tornou mais uma obra que teve de reduzir seu roteiro a algo mais aprazível para o público geral, em que não possui identidade, mas entrega momentos satisfatórios que fazem a pessoa querer saber o que vai acontecer no próximo episódio, mas cai na mesmice do clássico roteiro Ocidental com personagens rasos.