Recentemente, a cantora Melody anunciou que ia lançar uma nova versão da música “Faking Love” da maior artista brasileira atual, Anitta. A jovem de 14 anos tem sido o assunto do momento desde que lançou um remix da canção “Positions” da artista internacional Ariana Grande, chamando-o de “Assalto Perigoso”. Essa versão viralizou no TikTok e convenceu a jovem cantora de que ela poderia seguir fazendo isso sem problemas.
Melody, então, lançou a nova música, também popular no TikTok, porém ela foi rapidamente retirada das plataformas digitais, resultando em um alvoroço nas redes sociais. No Twitter, subiram a tag #LiberaAnitta como um pedido para que ela mantivesse a canção nas plataformas digitais, mas também culpando a artista pelo ocorrido com a canção.
“Ué? Mas mas o que tem de errado? Todo mundo sabe quem é a Anitta e que essa música é dela… deixa a menina.” Aí que entra o problema. Como a Anitta disse em seu pronunciamento no Twitter: “música não é bagunça”. Não se pode utilizar partes da melodia, da letra ou da voz de uma cantora em sua própria canção, se isso não for feito da maneira certa.
O empresário de Melody é o pai dela. Desde o começo da carreira da jovem, o homem foi envolvido em diversas polêmicas pelo jeito em que geriu a carreira da filha, e muito disso se deve ao pouco conhecimento que ele tem sobre o que ele faz. Em resposta a hashtag criada, Anitta fez uma thread no Twitter contando o que ocorreu.
No tweet, Anitta diz que, apesar de gostar da nova versão criada por Melody e acreditar que a jovem cantora tem muito potencial para crescer, era óbvio que o algoritmo da gravadora dela derrubaria qualquer canção utilizando produtos da Anitta sem que houvesse uma permissão oficial. Permissão oficial na música não é mandar uma mensagem e falar combinado, assim como um feat ou uma colaboração não se combina por Whatsapp. Para isso é necessário contratos sérios, com negociações de direitos sobre o que se está publicando.
De maneira sucinta, uma música, para ser publicada, precisa ser registrada para a cantora obter os seus direitos autorais sobre ela. Os compositores registram a obra e o produtor fonográfico registra o fonograma que, em poucas palavras, é a música gravada no estúdio e mixada, e normalmente esse produtor é a gravadora. Ao lançar um remix, que é o caso em questão, a Melody ou o time da Melody, deveria ter pedido permissão de uso do produto e negociar o recebimento e o pagamento dos direitos a quem os detém, no caso, a Anitta e a gravadora dela. Depois de assinado o contrato, a música poderia ter sido lançada sem problemas.
No tweet, a Anitta explica que a música tem 11 donos e que a editora dela, que cuida da obra, ou seja, da letra, da composição, e que seria necessário, FORMALMENTE, e não via Twitter, pedir permissão para todos. A cantora de “Girl From Rio” culpa, portanto, o pai da Melody, empresário da jovem, por esse mal entendido.
Isso tudo serve de crítica ao jeito que arte é tratada no Brasil. Tão pouco investimento é feito e ela é tão pouco valorizada, que as pessoas acabam achando que não tem lei. Como uma pessoa que começou a trabalhar nesse meio e cuida do lançamento de músicas, digo que não somente pessoas, como os próprios artistas não fazem ideia da burocracia e do processo por trás da liberação de uma canção.
Não se pode só escrever, compor, gravar, produzir, mixar e masterizar uma canção e achar que ela está pronta para ser lançada. Isso é uma noção que todos os artistas deveriam ter e é o principal motivo para a música brasileira ser, infelizmente, fracassada do jeito que é. Digo com segurança, que uma das únicas artistas nesse país que têm noção disso é a Anitta, não é à toa que ela é grande do jeito que é e conseguiu dar essa lição de moral não só para o pai da Melody, mas para o país inteiro.
Já é hora de as pessoas começarem a respeitar a arte e ver ela como um negócio. Já é hora de ensinar sobre direitos autorais para os artistas e para quem escuta, para começarem a levar música, quem faz música e quem está por trás do lançamento de uma música a sério.
Texto feito por Marcella Lizaso, gestora musical do selo Brasilera Music.