Comportamento

Micro-moments

By Colunistas Newronio

May 29, 2015

Num terceiro texto derivado do Forum Novas fronteiras do Comportamento do Consumidor, trago uma das intervenções que, como podia se esperar, foi das mais impactantes e conectadas com o momento: Gleydis Salvanha, representando a Google.

A velocidade de acesso à totalidade das informações chegou à beira da instantaneidade. E o tempo definitivamente passou a ser vivido e poder registrado no parâmetro do momento. Isto vai da internet vestível (evitando os termos bacaninhas em inglês) e pilotando nossas casas, às ações de marketing absolutamente singularizadas integradas à nossa vida.

Gleydis mostrou um vídeo genial produzido pela Google, que naturalmente, expressa melhor que qualquer texto a dinâmica do momento:

Do lado de cá, no mundo universitário, comemoro o fato de que trabalhamos esta dinâmica há algum tempo.

Uma das formas de compreender a relação entre uma sociedade tradicional, uma moderna e uma contemporânea passa justamente pela relação com o tempo. Numa sociedade tradicional, como a Idade Média ocidental, o tempo era a ‘eternidade’: Deus fez cada coisa e a dispôs onde bem entendeu; num mundo assim perfeito e justo tudo está parado e pronto. Palavras como ‘revolução’, ‘evolução, ‘desenvolvimento’, ‘progresso’, só passaram a fazer sentido no Mundo Moderno, na passagem dos séculos XVI ao XVII. Neste mundo, concebe-se que o Homem nasce sendo nada, mas livre para ser o que fizesse de si. Tudo no mundo é pensado em forma processual e como projeto lançado ao futuro. Movemo-nos num mundo imperfeito em busca de utopias.

O mundo contemporâneo, de uns 30 anos para cá, parece ter chegado a um ponto de paragem. O chamado mundo globalizado “ganhou” e não há Plano B. As alternativas de poder estão mais entre agentes do que entre modelos. Neste sentido, não há mais utopias e não se acredita que as coisas possam mudar estruturalmente. Buscamos nosso lugar no mundo, não mais um outro mundo.

Se não há futuro, o passado perde o interesse. O sentido de estudar História é conhecer os processos de mudança e poder planejar e transformar. Sem futuro mutável, por quê estudar o passado?

E, enfim, se não há futuro nem passado, só nos resta cada instante, e eu só quero me divertir. Este é o tempo do mundo contemporâneo. Cada momento deve ser vivido na intensidade do gozo.

O vídeo da Google capta um aspecto verdadeiro e maravilhoso da vida vivida em micro-momentos intensos e registráveis, mas sabemos que esta fragmentação tem seu preço, igualmente verdadeiro. Entre os micro-momentos, habita um vazio.

Pedro de Santi

Psicanalista, doutor em psicologia clínica e mestre em filosofia. Professor e Líder da área de Comunicação e Artes da ESPM.