Num terceiro texto derivado do Forum Novas fronteiras do Comportamento do Consumidor, trago uma das intervenções que, como podia se esperar, foi das mais impactantes e conectadas com o momento: Gleydis Salvanha, representando a Google.

A velocidade de acesso à totalidade das informações chegou à beira da instantaneidade. E o tempo definitivamente passou a ser vivido e poder registrado no parâmetro do momento. Isto vai da internet vestível (evitando os termos bacaninhas em inglês) e pilotando nossas casas, às ações de marketing absolutamente singularizadas integradas à nossa vida.

Gleydis mostrou um vídeo genial produzido pela Google, que naturalmente, expressa melhor que qualquer texto a dinâmica do momento:

Do lado de cá, no mundo universitário, comemoro o fato de que trabalhamos esta dinâmica há algum tempo.

Uma das formas de compreender a relação entre uma sociedade tradicional, uma moderna e uma contemporânea passa justamente pela relação com o tempo. Numa sociedade tradicional, como a Idade Média ocidental, o tempo era a ‘eternidade’: Deus fez cada coisa e a dispôs onde bem entendeu; num mundo assim perfeito e justo tudo está parado e pronto. Palavras como ‘revolução’, ‘evolução, ‘desenvolvimento’, ‘progresso’, só passaram a fazer sentido no Mundo Moderno, na passagem dos séculos XVI ao XVII. Neste mundo, concebe-se que o Homem nasce sendo nada, mas livre para ser o que fizesse de si. Tudo no mundo é pensado em forma processual e como projeto lançado ao futuro. Movemo-nos num mundo imperfeito em busca de utopias.

O mundo contemporâneo, de uns 30 anos para cá, parece ter chegado a um ponto de paragem. O chamado mundo globalizado “ganhou” e não há Plano B. As alternativas de poder estão mais entre agentes do que entre modelos. Neste sentido, não há mais utopias e não se acredita que as coisas possam mudar estruturalmente. Buscamos nosso lugar no mundo, não mais um outro mundo.

Se não há futuro, o passado perde o interesse. O sentido de estudar História é conhecer os processos de mudança e poder planejar e transformar. Sem futuro mutável, por quê estudar o passado?

E, enfim, se não há futuro nem passado, só nos resta cada instante, e eu só quero me divertir. Este é o tempo do mundo contemporâneo. Cada momento deve ser vivido na intensidade do gozo.

O vídeo da Google capta um aspecto verdadeiro e maravilhoso da vida vivida em micro-momentos intensos e registráveis, mas sabemos que esta fragmentação tem seu preço, igualmente verdadeiro. Entre os micro-momentos, habita um vazio.

desanti

Pedro de Santi

Psicanalista, doutor em psicologia clínica e mestre em filosofia. Professor e Líder da área de Comunicação e Artes da ESPM.

   

 

Os colunistas do Newronio são professores, alunos, profissionais do mercado ou qualquer um que tenha algo interessante para contar.