O objetivo da feira é, obviamente, a comercialização das obras mostradas. A presença de investidores, ávidos por aplicações que, além de belas, poderão se valorizar muito ao longo do tempo, é forte e a eles é dado tratamento diferenciado. Vá com um autêntico Rolex e quem sabe você ganhe um cafezinho. Dezenas de galerias disputam estes compradores trazendo muita diversidade, geralmente obras de mais de um artista e até temáticas diferentes. Por isso, nem sempre o diálogo entre as obras é forte e ao longo do percurso se vê obras da mesma autoria compondo acervos completamente diferentes. Assim, a observação das obras de forma isolada pode ser muito mais rica que em relação ao conjunto. Dá pra imaginar Conceição dos Bugres casando com Warhol?
Contraditoriamente, o que poderia ser um defeito, acaba se tornando algo muito positivo: ali está justamente o que há de “melhor” em cada uma destas galerias. Se não é possível entender toda a trajetória de um artista, o ambiente permite ao visitante observar boas doses de excelentes nomes da Arte. Assim, cada um pode fazer sua própria curadoria, estabelecendo relações entre aquilo que mais gosta. A presença de formatos mais comerciais, como telas e esculturas também é um contraponto forte em relação a uma feira que se propõe a discutir os rumos da Arte, como as Bienais internacionais, marcadas por instalações e performances. Este cunho comercial dá à feira uma percepção de maior proximidade com a realidade das pessoas e, de certa forma, isto parece ser didático e convidativo.
Uma enorme quantidade de artistas dividem o mesmo espaço com temáticas e abordagens bastante divergentes. Os corredores recheados de consagrados, como é o caso de Jeff Koons e Darmien Hirst, exibem também Marc Chagall, Cruz Diez, Marina Abramovic, Mark Rothko. Brasileiros como Beatriz Milhazes, Adriana Varejão, Burle Marx e osgemeos aparecem com Lygia Clark, Volpi, Portinari, Di Cavalcanti. De forma pontual, mas também marcante, a dita Arte Popular aparece na figura de nomes como José Antônio da Silva, Ranchinho, Véio. Esta “bagunça capitalista” é uma grande perdição para os amantes da Arte, porque os preços facilmente superam a casa dos milhões e são acessíveis para uma restritíssima minoria. É preciso uma quase ousadia pra perguntar o valor das peças, ainda que só por curiosidade.
A maioria está lá para saciar a sede de arte e encher os olhos. O público é composto por gente de todo tipo: além de investidores, estudantes, professores (Joca, Silvana, Casarotti), crianças (tentando por a mão em tudo), casais de idosos e muitas celebridades (Sharon Stone, Kate Moss, Hector Babenco, Arnaldo Jabor, Fernanda Torres, Herchcovitch). Todo tipo de reação aparece, só é impossível passar indiferente à força da Arte. A SP-Arte deixa um residual muito significativo para os visitantes: a arte talvez não seja mais opcional.