Sinapse por Pedro Hutsch Balboni, 28/01/2010, às 2h22 da madrugada (não seria dia 29 então?)

Estar na Campus Party é, no mínimo, uma experiência antropológica. Para realmente sentir o evento, não basta vir nele, olhar as coisas e ir embora – você deve acampar aqui, dormir aqui. Na madrugada, coisas acontecem.

Antes de tudo é importante entender que as coisas começam de maneira desconhecida. Um ritual aqui é quando uma pessoa grita “ÔÔÔôôô”, todas as outras respondem-repetem “ÔÔÔôôô”, e os gritos tomam o Centro de Exposição Imigrantes por alguns segundos. Quando alguém executa esse ritual e levanta uma cadeira para os céus, todos repetem, entusiasmados. Há uma ansiedade no ar, e os campuseiros ávidos por novidade parece que estão apenas em “modo de espera”, esperando alguém disparar alguma bagunça. E sempre há líderes agitadores.

Ontem, dia 27, por exemplo, teve a “festa das cadeiras”. Não faço idéia de como começou, o motivo de tudo, sei que alguém saiu correndo e gritando “ÔÔÔôôô” com uma cadeira apontada contra os deuses, e uma multidão se somou ao evento, veja o vídeo abaixo:

Hoje foi dia de outra comoção coletiva, apelidada de “festa da madrugada”. Uma música alta quebrou os ruídos habtuais, e algumas pessoas começaram a dançar. Os campuseiros começaram a filmar, e logo havia algumas dezenas de câmeras apontadas para um “dançarino”. Aí veio um segundo e o desafiou. A platéia foi ao delírio. Foi então que chegaram as meninas:

Mais ou menos meia hora depois começou a guerra. O Mercado Livre passou o dia distribuindo um panfleto de papelão em forma de palheta gigante, e esta foi a principal arma usada pela artilharia nerd. Uma nuvem patrocinada cobriu os “céus”, atormentando uns e divertindo outros.

Há um sentimento de união coletiva muito forte aqui. A maior prova é a torcida fiel das partidas de Street Fighter 4 disputadas no telão. As pessoas estão a procura dos acontecimentos locais, com vontade de participar, de ver e de ser visto. A Campus Party trás o internauta para o centro da internet.

Várias micro-manifestações vão acontecendo no evento, e vez ou outra ela toma força e se transforma em uma comoção coletiva. É importante lembrar que a comoção coletiva está muito próxima de uma histeria coletiva, e aí a coisa pode ficar perigosa – pois quando a massa encontra um inimigo em comum não há força que a contenha. Acho que os seguranças aqui também sabem disso.

Enfim, a noite continua por aqui.

Twitter @phbalboni @newronioespm